O Segundo fundador de Taubaté

O Segundo fundador de Taubaté

Taubaté está entre os dez primeiros núcleos populacionais que deram origem aos 645 municípios paulistas existentes na atualidade. O povoado surgiu na década de 1640 para expandir o colonialismo português e ocupar a região do vale do rio Paraíba, entre a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira.

Arte: Municípios e Distritos do Estado de São Paulo, Instituto Geográfico e Cartográfico

Como nasce uma cidade:

1 – Ao redor da capela os habitantes constroem suas casas. Quando estes têm condições de manter um pároco (cura), a capela recebe a denominação de capela curada, equivalente à paróquia. A tributação (dizimo) exigida aos fiéis impõe a paróquia a delimitação de seu território. Seu raio de influência podia alcançar até centenas de quilômetros de distância.
2 – Devido a grande importância da Igreja católica e sua influência sobre nossa sociedade, a primeira preocupação dos habitantes de um povoado é a construção de uma capela sob a invocação de um santo, que passa a ser o padroeiro da localidade.
3 – Após a elevação à vila, esta passa a atrair mais moradores e a se desenvolver, valorizando o local. Além disto, surgem nas proximidades novos povoados que, ficam subordinados à vila, por ainda não possuírem a sua autonomia política-administrativa.
4 – O povoado cresce e obtém autonomia político-administrativa, ou seja, a elevação à categoria de vila (município). Para tanto, além da Igreja, o povoado deve possuir câmara, cadeia e pelourinho, símbolo principal desta conquista.

Economia Colonial

A primeira fase econômica de Taubaté (1645 a 1690), é caracterizada pela atividade agro-pastoril de subsistência aliada ao ciclo de caça aos indígenas; a segunda fase (1690 a 1715), é marcada pela “atividade agro-pastoril conjugada com o ciclo do ouro nas Minas Gerais. A última fase da economia colonial, que se inicia por volta de 1715, é a da atividade agro-pastoril com preponderância da cultura da cana de açúcar, o aumento de engenhos e a produção maior das água ardentes.

Era do cafezinho

A presença da Corte Portuguesa no Brasil a partir de 1808 mudaria a face do país.  Só com a abertura dos portos e a liberação das indústrias o Brasil terminando de três séculos de monopólio português e entrava no sistema internacional de comércio e produção.

Logo depois surgiu o produto que pesaria na balança comercial brasileira: o café. O país tornou-se o maior exportador de café do mundo quando o grão encontrou no Vale do Paraíba, no fim da década de 1840, solos, temperaturas, altitudes e extensões de terras favoráveis a seu cultivo maciço.

O café fazia chegar ao Vale, em retorno dos portos estrangeiros, mercadorias para o bem-estar de seus condes e barões. Também financiou a chegada da imprensa, das diversões públicas como o teatro e circos e dos ramais da estrada de ferro.

Porém, provocaram declínio da produção na região. Seria no oeste paulista o grão encontraria condições ainda melhores e se tornaria o produto número 1 da pauta de exportações brasileira.

Entretanto, a economia cafeeira da região do Vale do Paraíba entra em decadência a partir das duas décadas finais do século XIX. Um declínio explicado pelo desmatamento selvagem, plantio sem critérios, fim da mão de obra escrava, entre outras razões.

Revolução no Sítio

A Companhia Taubaté Industrial (C.T.I.) surgiu em 1891. A fábrica foi construída com peças nacionais e estrangeiras, principalmente da Inglaterra, enquanto seus produtos eram vendidos no Rio de Janeiro.

Nas décadas seguintes, além de se transformar numa das maiores indústrias têxteis do país, a CTI influenciaria diretamente a organização social e a economia de Taubaté e região.

A administração municipal ganhou uma receita oficial mais dimensionada com o recolhimento de novos impostos; o comércio experimentou uma expansão face à massa salarial ceteiense, e empresários com visão e talento se encarregariam de propiciar lazer, cultura e infraestrutura médico-sanitária aos munícipes que assistiam a transformação da cidade. A Usina Hidroelétrica Felix Guisard atendeu a necessidade de algumas comunidades mais próximas à usina, a exemplo das cidades de Redenção da Serra, Natividade da Serra, São Luiz do Paraitinga, e até Ubatuba no litoral norte.Aliás, a colônia de férias na cidade litorânea estimulou uma forte conexão entre taubateanos e ubatubanos que dura até os dias atuais.

Sob o comando do carismático Felix, a família Guisard foi ampliando seus negócios e expandindo-se pelo Vale. O jornal da CTI, a Companhia de Cinemas do Vale do Paraíba, o Banco do Vale do Paraíba e a Companhia Predial de Taubaté ultrapassaram os limites locais. Desde o começo observou, pois, uma predisposição à diversificação e à auto-suficiência. Os Guisard também participaram ativamente na vida local. Ocuparam cargos e financiaram o Hospital de Santa Isabel, o Asilo de Mendigos, as Casas Pias São Vicente de Paula, o Orfanato Feminino Santa Verônica, a Escola Normal Municipal, a Escola “Felix Guisard”, a Sociedade Taubateana de Ensino, o Taubaté Country Club. Felix Guisard e Felix Guisard Filho também foram prefeitos de Taubaté e Jaurés Guisard, além de prefeito, chegou a deputado estadual. Antes de morrer, Félix Guisard expressou seu desejo de manter o funcionamento da fábrica no dia de sua morte. Indicava com este gesto a consolidação de uma organização que permitiria a continuação do trabalho nos mesmos termos seguidos durante sua vida.

Um século e meio depois

Em 2022 completam-se 150 anos do nascimento de Felix Guisard e os 80 anos de sua morte. São efemérides mais do que apropriadas para refletir sobre as origens, o desenvolvimento e até sobre o futuro da cidade.

E quem já disse isso foi um taubateano que entendeu muito bem a alma da cidade e o espírito do Brasil: Monteiro Lobato. O criador do Sítio do Picapau Amarelo afirmou que Felix Guisard foi “a criatura” lhe inspirou “mais respeito pela espécie humana”. E disse mais:

“Há dois Taubatés – o anterior e o posterior a Felix Guisard. O Taubaté novo, ou tudo quanto Taubaté tem de progresso, de civilização nova e de vitalidade econômica vem direta ou indiretamente daquele homenzinho que mesmo depois de morto ainda fez uma inspeção à fábrica. O Taubaté de Jacques Felix fechou a sua fase no dia em que o segundo Felix se localizou lá, e se o primeiro foi o fundador eventual da Cidade, o segundo foi o taumaturgo que transformou uma estagnada comunidade de fundo rural num positivo centro de indústrias. Foi portanto o seu segundo fundador”.

A herança de Felix Guisard não foi só econômica. É isso que mostraremos neste Memorial.

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