Olhando o Passado por Maria Cecília Guisard Audrá

Olhando o Passado por Maria Cecília Guisard Audrá

Maria Cecília Guisard Audrá

Felix Guisard

Olhando o Passado

Todos os direitos reservados
Fundação Biblioteca Nacional

Ao Arthur

OLHANDO O PASSADO

por Maria Cecília Guisard Audrá

Hoje, dia 18 de julho de 1994, começo a escrever tudo que consegui acumular em anotações deixadas por meu avô Felix Guisard e meu pai Felix Guisard Filho. Procurei pessoas da família para que me contassem o que sabiam, também voltei meus pensamentos para a minha infância tentando recordar as conversas ouvidas. Vou registrar aqui tudo, apenas para que fique guardado e não se percam informações que, para uns não dizem nada mas, para outros, são preciosas. Para mim, viver em pensamento naquela época, sentir as dificuldades provocadas pela guerra, a luta pela sobrevivência, sentir o trabalho pesado dos nossos antepassados, tudo isso me dá a sensação de dever cumprido. Começarei pelos ascendentes da família Guisard, em seguida, pretendo contar sobre os Monteiro que são o lado de minha mãe, Maria Eulália Monteiro e depois passar para a família Audrá, de meu marido Arthur Audrá, então contarei a nossa vida, as nossas viagens, também as nossas lutas, sofrimentos e dificuldades. Falarei dos nossos filhos netos e bisnetos. Assim deixarei para algum dos nossos descendentes o encargo de continuar a nossa história.

Maria Cecília

Agradecimento

Desejo agradecer a ajuda que me deram: Dalila Querido Guisard, nas pesquisas, nas visitas ao Museu de Taubaté, exercendo o papel de continuísta, assim como as pessoas da família, relembrando fatos que muito me auxiliaram. Agradeço ainda, a meus irmãos Felix Guisard Netto, que com sua incrível memória recordou-se de acontecimentos vividos na sua infância e a José Luis Jacques Guisard, fornecendo documentos preciosos.

Maria Cecília

Em campo de goles, tres fivela de ouro, em roquete. Brazão de Armas da Casa de Mallet ou Malet (grafia primitiva). Sires de Greville, na Normandia, França, dos séculos XII a XVI (Annuaire de La Noblesse de France, 1844) Representada no Brasil pelo Marechal Emílio Luiz Mallet, barão de Itapevi.

Brazão de Armasda Família Mallet, ramo da Bretanha: Em campo de arminho, tres faixas de goles. (“La France Héraldique”, de Ch. Polimont, 1874). Os Mallet da Bretanha são procedentes da Normandia, de onde essa família é originária, daí espalhando-se pelas demais províncias francesas.

OLHANDO O PASSADO

Guilhaume de Mallet, Barão Normando, Primeiro Sire de Greville, companheiro de armas de Guilherme, o Conquistador. Na invasão da Inglaterra, tornou-se um dos mais poderosos senhores do Reino Unido como Principe e Lord Mallet. Seus dois filhos, Gilbert e Robert de Mallet, fundaram o ramo inglês e o francês, respectivamente, desde a nossa ascêndencia.

Sobre o ramo francês, conta-nos Pedro de Mallet Joubin, que Lord Robert Mallet, Visconde de Eye e Grande Camarista da Inglaterra, tomou o partido de Robert, Duque da Normandia e morreu na batalha de Trinchebrais, no ano de 1106.

Seus sucessores, como Sires de Greville, detentores desse feudo do séc.XI ao XVI, são tidos como os mais antigos e ilustres da França, sendo, mesmo considerados “Primos do Rei” devido às alianças matrimoniais. Em todas as baralhas da Alta Idade Media, há um Sire de Greville. Eles colaboraram na formação do espirito nacional francês e na centralização monarquica. Os Mallet serviram em armas, ciências e letras nos séculos XVII, XVIII, e XIX.

O General Claude François Mallet foi um gentil-homem, de maneiras antigas e ideias revolucionárias. Mosqueteiro do Rei na Revolução Francesa e Coronel Comandante da Guarda Nacional de Dôle, sua terra natal. Foi promovido a General de Brigada no Exercito dos Alpes. No entanto, foi conspirador republicano, não tendo aderido ao Império de Napoleão. Foi preso na Campanha da Austria. Conspirou no Golpe de 1812, durante a campanha da Russia. Mallet, seguido por parte da guarnição de Paris, tentou se apoderar do governo. Foi preso e fuzilado no Campo de Marte, em Paris. Hoje, faz parte da História da França.

Aqui começa a narração da Família Guisard no Brasil, com a vinda do ramo originário da Bretagne. Jacques Mallet, Joseph Caillaud e Felix Louis Guisard.

A fortuna do Padre Mallet.

(Copiada do Jornal Monitor Mercantil de 20 de Setembro de 1924)

Encontram-se neste Estado vários herdeiros da fortuna do Padre Mallet falecido em 1888, deixando uma grande fortuna avaliada em 10 milhões de dólares.
Em 23 de Setembro de 1888, foi publicado no jornal Ohio State Register assinado por James Coldinton, (xerife)e George Suipaer (escrivão), avisando que aquela fortuna fora recolhida aos cofres do Estado. O Padre Mallet faleceu na cidade de Toledo, Espanha e fez fortuna explorando petróleo. Simplex Mallet, filho de Leon Mallet, em Dezembro de 1922, tomou posse da herança, ficando provisoriamente habilitado no prazo de cinco anos, até que outros herdeiros aparecessem. O Dr. Vieira Nunes, residente no distrito de Livramento, apresenta-se como um dos herdeiros do Padre Mallet, sabendo-se que existem outros, não só neste Estado como em São Paulo.

O Mallets reúnem-se em sindicato para obter fortuna que herdaram.

(Em 14 de Fevereiro de 1962, meu pai Felix Guisard Filho remeteu uma carta explicativa para Angouleme, França, após ter conhecimento da seguinte notícia)

Angouleme, Fevereiro. Os 2673 herdeiros do emigrante francês Jean Pierre Mallet, que fez fortuna nos Estados Unidos, ha cerca de 200 anos organizaram-se em sindicato ( Sindicato Nacional dos Herdeiros Mallet ) e reunir-se-ão em assembléia (a primeira) para decidir quais as medidas que tomarão para obter do governo Ianque, os bens deixados por aquele seu antepassado e que hoje valem 300 milhões de dólares .A assembléia será realizada no próximo sábado, dia 10 em Angouleme, para onde convergirão todos os Mallet espalhados pelo mundo.

Outra notícia dizia:

Os Mallet fazem força.

Os anos se passaram e os Mallet foram se multiplicando. Hoje somam 2673, espalhados pelos cinco continentes. Finalmente todos eles resolveram unir-se e constituíram o “Sindicato Nacional dos herdeiros Mallet,” para lutar por seus direitos junto ao governo norte-americano. E no próximo sábado deverão estar reunidos pela primeira vez para deliberações na “Sala da Filarmônica desta cidade. Na assembléia será debatida a forma pela qual, se dirigirá ao governo norte-americano, para reivindicar os milhões deixados por Jean Pierre. Haverá debate e ao final será redigida moção a ser enviada tanto ao governo Ianque como ao Francês. Comenta-se que alguns herdeiros estão dispostos a mudarem-se para os Estados Unidos, para entrarem na posse da fortuna.

Mallet faz a América

Ha dois séculos em plena fase das “corridas do ouro”, Jean Mallet emigrou para os Estados Unidos, onde enriqueceu rapidamente. Sua morte foi seguida de grande celeuma, porque os herdeiros, residentes fora do território dos Estados Unidos, não puderam entrar na posse dos bens deixados por ele. Os Mallet iniciaram ação junto ao governo Ianque, mas não adiantou. O Tesouro dos Estados Unidos respondeu esclarecendo que a fortuna deixada por Jean Pierre não podia sair das fronteiras norte-americanas,
Finalmente, chegado o ano de 1888, decidiu-se oficialmente “congelar” as propriedades do falecido pioneiro.
Não foi possível provar que as duas Elisabeths mãe e filha eram herdeiras da fortuna Mallet porque com a guerra, seus papeis guardados em capelas foram queimados.

MALLET

Jacques Mallet, nasceu em Nantes, em 1775. Casou-se com Elisabeth Jacqueline DeVaux, (Devaux)falecida na França. Seus restos mortais foram trazidos pela família para o Brasil, estando agora repousando no Ossário da Família Guisard no Cemitério da Ordem Terceira em Taubaté, onde também estão as duas Elisabeths Mallet, mãe e filha.
Em Nantes nasceram os filhos do casal, com exceção de Elisabeth, nascida em Brest, em 1805.
Foram seus filhos:
Elisabeth, Leon, Celine, Emmanuel, Auguste, Caroline, Amélie.

Jacques Mallet era proprietário do Hotel des Frères Provenceaux, na cidade de Brest Era um “gentleman” vestia-se como as pessoas da Corte, com polainas, jaquetas e toda a indumentária elegante da época. Era conquistador, muito inteligente e divertido. Contava anedotas e era um espirito expansivo.

Da autora francesa Marguerite Youcenar, em seu livro “Recordações de Família” à pagina 93, li uma referencia do jornalista Saint Just do jornal L,Organt quando jantava no Hotel des Frères Provenceaux por ocasião do processo de Maria Antonieta.

Os Mallet eram muito conceituados na França,
Ai começa a historia da família Mallet à qual pertencemos. Vários ramos se formaram e o que foi da Grã-Bretanha para a França é o que veio para o Brasil, Jacques Mallet.
Minha bisavó Amelie, contava que pertencia a família nobre .
Portanto o primeiro Mallet que conhecemos é Josefh Mallet, casado com Jacqueline De Vaux, pais de Jacques Mallet.
O ascendente mais remoto de quem temos conhecimento é o Padre francês Geoffroy Barthely Mallet, mais conhecido como Padre Mallet.
As noticias que temos dele, nos vêem de artigos de jornais publicados na época:

Elisabeth Mallet, professora, nasceu em Brest em 1805. Casada com François Caillaud, moravam em Paris. Era uma senhora enérgica e instruída á qual foi confiada a administração das Oficinas Nacionais criadas pelo Governo Revolucionário em Paris, para dar ocupação ao povo sem trabalho, que costuravam para os pobres, durante a Revolução Francesa.
Transcrevo aqui, o certificado de boa conduta para o cargo:
Departamento do Sena
Cidade de Paris-Prefeitura. 2o Distrito
Madame Elisabeth Mallet Caillaud, costureira ,morando em Paris à rua Saint Georges, 19, nomeada delegada dos operários do 2o distrito.
Assinado: Prefeito Berge.
Paris, 8 de Abril de 1848.

Leon Mallet, armador de navios. foi para os Estados Unidos, formando imensa fortuna em petróleo e locomotivas Mallet.

Dragão Vermelho 7, na ilha Negros “Filipinas Na Ilha de Java as máquinas a vapor ainda são usadas para o transportes de cana.

Emmanuel Mallet, capitão de longo curso e viajava muito para os Estados Unidos.

Auguste Mallet, pintor de renome, foi casado com a filha de um dos secretários de Napoleão III. (cheguei a ver  num leilão da Chritie’s de Londres, pela televisão, um de seus quadros).

Celine Mallet, falecida solteira

Amelie Mallet, casada com Cognel.

Caroline Mallet, casada com Mougein.

Existe a seguinte carta de Caroline para Elisabeth,  dizendo:

Rue des Contances, 3  (sem data)

Eu gostaria muito de receber muitos detalhes de vocês todos. Elas são lidas com felicidade, tão longe uns dos outros. Você tem frio? (A carta continua falando do mau tempo, das tempestades e de um navio a vapor que desapareceu com 8 homens. Diz que Celine continua sempre sofrendo dores de cabeça Auguste está em Chaubray. Mora na Rua Contrescarpe, 13.

JOSEFH  CAILLAUD, nasceu em Nantes, em 1774. Era filho de família tradicional, estudou e formou-se  na Escola de Mineralogia de Nantes  Casou-se em 1803. .Não temos o nome de sua esposa.

Em 1819, foi para a Líbia para fazer explorações geológicas e mineralógicas e lá foi convidado a participar de uma comissão encarregada de estudar “in loco” e descobrir as nascentes do Nilo Azul. Fez o trabalho que foi muito  apreciado sendo publicado no Grande Dicionário “Larouse”, pagina 1004 coluna 3o, sob o titulo :Nil Bleu

Diz o seguinte: Um de nossos compatriotas, Caillaud de Nantes, que fazia explorações mineralógicas e geológicas na Líbia, foi anexado á qualidade de engenheiro. Ele subiu o Nilo até o lugar onde se encontra agora a cidade de Karthoun. É onde o Nilo Azul se joga no Nilo Branco. Caillaud não hesitou em reconhecer que o último, que se dirige para o Sul,  é o verdadeiro Nilo e que o primeiro não é senão um afluente. Era assim a opinião de alguns geógrafos antigos. Caillaud assegura que o verdadeiro Nilo se  origina nas montanhas da Lua. Ele constata que o curso do Nilo Azul é o mais estreito e tem mais rapidez que o Nilo Branco. Seguindo o Nilo Azul até os confins da Abyssinia, Caillaud ficou  admirado da exuberância da natureza nestas regiões.

Antes de saírem de Nantes, Joseph Caillaud mandou as mulheres da família se vestirem  de homens e, que fossem á noite ao cemitério e retirassem   os ossos de Elisabeth de Vaux, os pusessem numa caixa para os levarem para onde fossem, até chegarem ao Brasil .Conta Eugênio Guisard que chegou a vê-los .

FRANÇOIS CAILLAUD, era filho de Josefh  Caillaud e nasceu em 17 de Dezembro de 1804.  Suas irmãs o chamavam Francis. Casou-se  em segundas núpcias em Nantes com Elisabeth Mallet (também  chamada Elisa) filha de Jacques Mallet. Foram  morar em Paris assim como seus filhos Gustave Caillaud do primeiro casamento e do segundo Leonie Marie, Emmanuel, George, Celine e Amélie que foi minha bisavó.

Em 1848, durante  a Revolução Francesa, François,  então com 44 anos, em Paris freqüentava os boêmios da alta roda, como seja: Garvani, Antenor Joli, Marques de Jouffroy e outros que  se  reuniam em casa de Letícia Bonaparte, mãe de Napoleão I, para discutirem política.  Como estavam em revolução, a casa foi varejada e alguns fugiram, entre eles François Caillaud  que à noite, reuniu sua família e seguiu para a Bélgica indo morar no Hotel de la Monaie em Bruxelles. La, vendeu seus bens comprou passagens para todos da família e partiram para Marseille, embarcando no navio Winslow que seguiria para o Brasil. Um outro motivo que contribuiu para a fuga foi  a sua fama de conquistador e  sua elegância no vestir que manteve, inclusive no Brasil. Sabe-se que ele, com mais de oitenta anos, teve um filho com uma mocinha sem deixar registro algum.

François Caillaud,  já  viuvo, em Paris, foi revisor dos livros de Victor Hugo. Conta Eugênio Guisard que chegou a ver alguns originais, trazidos da Europa por sua mãe Amélie,  que muitas vezes em Paris os levava de volta ao escritor, depois de  revisados por seu pai. Contava ela que um dia, Victor Hugo entregou-lhe um bilhete dizendo “as palavras voam e os escritos permanecem”. Em Diamantina, MG, encontra-se um livro deste autor revisado por  Caillaud. Em sua bagagem, trazia diversas peças para construir um “piano para escrever” (linotipo).

Vieram para o Brasil:

François Caillaud, e sua esposa Elisabeth Mallet Caillaud e seus filhos: Gustave, do primeiro casamento, Leonie, Marie,(Mémé), George, Manuel, Celine e Amélie e Josefh Caillaud.  Curioso : para embarcar para o Brasil, os homens do grupo tiveram que entrar no navio escondidos em baús por estarem sendo procurados pelos soldados do Imperador Napoleão III

Temos então toda a família  pronta para a nova  grande aventura. No navio Winslow iriam encontrar com Felix Louis Guisard que cinco anos mais tarde se casaria com Amelie e se tornariam meus bisavós.

Amelie Annaïs Mallet Caillaud Guisard
Esposa de Felix Louis e Mãe de Felix Guisard

Certidão de Nascimento de Felix Louis Guisard, pai de Felix Guisard

GUISARD

No dicionário Larousse, pagina 918 diz: GUISARD; Partizan de la maison de Guise. ligueur (membro da liga formada na França, nos Reinados de Henrique III e de Henrique IV.

JEAN LOUIS GUISARD nasceu em 1782 em Auxerre- Borgonha -França.

Casou-se com Madeleine Rose Colombe Busenet em 1833 filha de Albert Louis Busenet.

O casal teve os seguintes filhos:

FELIX LOUIS, nascido em Cheny, cantão Seignelay, departamento de Yonne, France, em 29 de Março de 1834, casado com Amelie Emma Anaïs

Mallet Caillaud.

Cesarine Guisard

Théofile.

Jean Louis Guisard, era fabricante de “séges” (carruagens).Pode-se imaginar os belos coches e delicados tílburis com estofamentos de veludo vermelho  e janelas com vidros “bisotés”! Como ele era escultor naturalmente fazia carruagens entalhadas  como aquelas usadas pela  Rainha da Inglaterra.

Sobre Felix Louis falaremos mais adeante pois sua vida foi mais conhecida.

CESARINE casou-se com Hunnot  comerciante de vinhos, contra a vontade de sua família, tendo sido muito infeliz. Moravam em Briennon. Após a morte de seu marido, Cesarine montou uma padaria na Estação de Briennon, onde vivia bem e com saúde em companhia de sua mãe Rose Colombe .

THÉOFILE, acreditamos que faleceu ainda criança pois não foram  encontradas referências a ele em nenhuma carta

Em Brienon residiam muitos parentes de Felix Louis:

Albert Louis Bussenet, Cesarine Hunnot, irmã de Felix Louis, Rualt, casado com Charlotte, tia de Darde Lejeune, Cadot, Duslat, Jules Bethem, Patô, Auguste e Victor Pernot, casado com Marie Leontine Bertrand .Os Pernot eram os fabricantes da célebre bebida Pernot ainda hoje muito conhecida na França.

Agora estamos mais perto dos nossos antepassados. Esta parte foi mais fácil conhecermos por possuirmos cartas de Felix Louis, deixadas por meu avô Felix Guisard e guardadas com imenso carinho por meu pai Felix Guisard Filho, assim como as de Eugênio Guisard irmão de meu avô já aos oitenta e quatro anos de idade, em resposta a informações pedidas por meu pai, sobre suas lembranças da família..

Meu bisavô Felix Louis já é meu amigo e bem conhecido. Tantas vezes li suas cartas escritas em francês e com letra infinitamente pequena, por não haver mais papel para escrever na região onde se encontrava, que sinto convivência natural com ele.

Estudou em Auxerre, onde morava com seus tios Suzanne e Darde Legeune.

Com seu pai aprendeu o ofício de marceneiro e escultor. Seus estudos eqüivaliam a engenheiro. Conhecia também lapidação de diamantes e construção. .

Viajou para conhecer a França como todos os rapazes da época, para complementar sua educação.

Terminado o seu tour de Françe, Felix Louis Guisard foi morar em Paris, á Rue Marie Stuart, 21 com sua mãe. Sendo filho de mãe viuva, não pôde fazer o Serviço Militar, conforme certidão da sub-prefeitura de Joigny, passada em 10 de Dezembro de 1855.

Em Paris, recebeu convite de uma firma brasileira  para fazer vitrines de luxo no Palais Royal, na rua do Ouvidor no Rio de Janeiro que  mais tarde tornou-se a Joalheria  Luis de Resende.  Foi para Marseille onde embarcou no navio a velas Winslow para o Brasil. Seu passaporte foi tirado no dia 12 de Dezembro de 1855. Seus dados pessoais são os seguintes: Idade 21 anos, 1,70 de altura, cabelos castanhos, olhos castanhos, nariz regular, boca média, barba nascendo, queixo com furo, rosto oval, pele colorida.

Temos então, as famílias Mallet-Caillaud e Guisard se conhecendo e se preparando para a grande aventura de suas vidas, seguindo juntos para o desconhecido. Conta-se que a menina Amélie perdeu-se no navio, durante a travessia, deixando seus pais  muito aflitos sendo depois encontrada por Felix Louis, tendo porisso sido  iniciada uma amizade duradoura. A viagem durou muito tempo e ao chegarem ao Estado do Espirito Santo, a família Mallet-Caillaud desembarcou  e  Felix Louis  seguiu para o Rio de Janeiro  para assumir seu compromisso, onde ficou por um ano.

Ao  desembarcarem. no Espirito Santo seguiram o Rio Mucurí  não se sabe se em barcos ou a pé com burros de carga, indo parar em Matta do Mucury,  mais tarde Teófilo Ottoni, para tentar fortuna procurando ouro e diamantes.

O grupo compunha-se de: Jacques Mallet, Josefh Caillaud  ambos viúvos e com cerca de 80 anos de idade, François Caillaud e sua esposa Elisabeth, filha de Jacques Mallet, os filhos do casal, Gustave, Leonie, Marie, George, Emmanuel, Celine e Amelie nossa bisavó.

Felix Louis Guisard , ao terminar seu contrato no Rio de Janeiro, foi convidado pelo Padre Cipolis, Superior do Seminário de Diamantina, para nessa cidade, compor o grupo de franceses encarregado da reforma e construção do passadiço unindo os dois prédios  do Seminário e dos  altares da Igreja e seus entalhes. Lá trabalhou cerca de três anos.

Também trabalhou em obras de esculturas em Igrejas, na construção da Igreja do Divino e ao terminá-las foi convidado a construir uma grande ponte sobre  o Rio Mucury. Organizou suas ferramentas, burros de carga, seus ajudantes e pretendia partir quando um mascate ofereceu-lhe um medalhão que foi reconhecido por ele, como tendo sido o mesmo usado por uma das senhoras durante a viagem para o Brasil. Informando-se melhor descobriu que em Teófilo Ottoni  (Matta do Mucury) havia uma colônia de estrangeiros com alguns franceses. Lá chegando, dirigiu-se para o único estabelecimento que existia, uma bodega (como se dizia na época,)  e perguntou ao vendeiro:

– O senhor sabe se mora aqui alguma família  estrangeira?

-Tem sim, mora atrás daquele morro e estão passando necessidade. Eles falam como o senhor.

-Como se chamam? pergunta Felix Louis

O nome deles  é “jenessépa” (je ne sais pas) que quer dizer  “eu  não sei ” em francês.

Felix Louis percebeu que os franceses diziam que não sabiam de nada porque não entendiam a língua portuguesa.

Bom compatriota que era, e de grandes qualidades morais, imediatamente carregou suas mulas  com  viveres, medicamentos e com a ajuda de um guia, seguiu para o lugar indicado

Saiu  ás três horas da tarde, caminhando até  meia-noite.

A sua chegada foi considerada um milagre. Todos estavam doentes por terem comido sementes de mamona por falta de qualquer alimento. Contaram que ao plantarem milho apareceram índios muito amáveis para ajudá-los e terminada a plantação, foram embora. Quando o milho ficou no ponto da colheita, os índios vieram e levaram tudo, na calada da noite.

A chegada de Felix Louis foi festejada alegremente cantando a Marselhesa e foi uma noite de delírio e preces a Deus por ter salvo da fome uma família honrada

Começou então uma nova vida para a família que estava desorientada.

Felix Louis tomou a si a incumbência de organizá-la. Os homens  iriam trabalhar na  construção da ponte e  as mulheres trabalhariam na plantação e na casa.

Amélie tinha então 15 a 16 anos. e nesse reencontro, reavivou a atração entre o jovem casal. Foi  contratado o casamento e realizado em 1861 em Teofilo Ottoni onde todos estavam morando. Felix Louis era bastante sério,  católico praticante, e de uma firmeza de caráter impressionante. Era um homem corretíssimo.

Ponte construída por Felix Louis Guisard

Ele era muito considerado pelos engenheiros do governo naquela localidade. Os Drs. Alberto Schimmer e Herman Schlobach sempre o consultavam antes de planejarem qualquer obra por conta do governo. Seu primeiro filho, Felix Guisard,

Feliz Guisard

Meu avô, nasceu no dia 22 de Janeiro de  1862 em Philadelphia (Diamantina). Percebendo que onde estava não havia mais trabalho, Felix Louis reuniu a família e dirigiram-se para Lagoa Seca à margem do Rio Jequitinhonha perto de Simão Vieira, onde nasceu e faleceu sua segunda filha, Maria. Lá iria construir mais cinco pontes em madeira das quais uma, se tem notícia que ainda estava  em uso em 1932.

Anos mais tarde instalou a família em Diamantina onde havia mais recursos.

Seguiu para Datas acompanhado dos homens da família, deixando as mulheres  e as crianças  com os avós Joseph, François  e Elisabeth, que ali faleceram.

Construiu a Igreja do Divino, os altares, esculpiu os entalhes e usando um grande tronco fez o púlpito com uma só peça , torneado na forma de cálice tendo na frente  as armas do Vaticano e com uma abertura para  passar o padre. Fez também os florões  de madeira do teto, de onde saem as lâmpadas que iluminam a Igreja.

Igreja de Datas

Em Diamantina, nasceram  os  filhos,  curiosamente a cada dois anos:

Em 1864, Marie falecida em 1866, em 1868, Jean Baptiste, em 1870, Victor, falecido em 1896, em 1872 , Marie  Nazareth, em 1874,

Theófhile, em 1876 Emile, que faleceu aos três anos, em 1878 nasceu Eugênio já na cidade de São José da Lagoa onde foram morar mais tarde.

Igreja de Datas

Ainda em Diamantina, Felix Louis Guisard  continuou com a sua vontade férrea de trabalhar e realizou muitas obras como, dois altares da Igreja de São Francisco  muitas fábricas de lapidação de diamantes, entre outras a do Comendador Serafim Moreira da Silva (Comendador Fimfim) a de João da Matta Machado na Fermação, a de Ludovico de Almeida, a do barão de São Roberto entre as cidades de São Roberto e Gouveia, o edifício da fábrica de tecidas de Biri-biri, e a ponte do Paraím de Calháu. Construiu também a passagem do Colegio Nossa Sra. das Dores.

Felix Louis era muito bem relacionado, especialmente com o Bispo D. João Antônio dos Santos que batizou seu primeiro filho Felix Guisard.

Era considerado e obsequiado pelas famílias Matta Machado, Felicio dos Santos e outras onde o velho François Caillaud era recebido constantemente como comensal.

Um detalhe bastante interessante  contado por Eugênio Guisard, foi sobre o gênio inventivo de François: como as viagens a cavalo eram muito demoradas, ele inventou uma canalização para urinar de cima do cavalo.

Deixando a família em Diamantina, Felix Louis foi para São José da Lagoa para começar a construção de uma ponte  que mediria 135 metros de comprimento. Lá chegando começou a providenciar homens para o trabalho pesado, outros para seguirem para as matas onde cortavam árvores tirando assim a madeira necessária para a ponte.

Felix Guisard em 1932 visitou a ponte construída por seu pai.

Nessa época escrevia enormes cartas a sua pequenina esposa Amelie.

Nelas pode-se sentir o quanto se amavam, quanto se preocupava com todos. Mesmo de longe, ele conseguia dirigir o trabalho de toda a família, cuidando de cada um em separado.

Sua única  meta era trabalhar muito e poder acumular algum dinheiro e voltar para a França, sua terra querida. Acontece que ele tinha desgosto de por ser filho de viuva, não ter podido servir sua Pátria. Sua intenção era que seus filhos  quando tivessem idade, pudessem cursar a Escola Militar de Saint Cyr na França,  dando assim, sua parte patriota a seu país. Mas infelizmente, ele não resistiu ao trabalho estafante com muita chuva e um calor tropical ao qual não estava acostumado.

Em suas longas cartas dizia que se alimentava  mal que comia canjica todas as noites e que tinha muita saudade dos pêssegos da Europa. Fazia economia até com suas roupas. Lamentava não saber costurar para poder fazê-las pessoalmente. Contava que o trabalho não rendia como ele gostaria porque a mão de obra era muito fraca e o tempo  de constantes chuvas e temporais.  Sua maior preocupação era como conseguir pessoa de confiança para enviar dinheiro para a família.`

Sobre o filho mais velho Felix,  meu avô, pensava como ele poderia estudar, e aconselhava  que se ele quisesse, poderia estudar no colégio dos padres  (Seminário) que ele dava  permissão,  mas ele iria, apenas  se quisesse.

Em São José da Lagoa,  Felix Louis ficou muito mais tempo do que pensava  devido ao mau tempo que o impedia de apressar o trabalho.

Carta de Felix Louis Guisard

De lá temos  cinco enormes cartas datadas de 17 de Fevereiro, 18 de outubro, 01 de novembro, 25 de novembro e 9 de dezembro de 1877, sempre contando as suas dificuldades e principalmente as saudades e o grande amor pela esposa. Queria saber tudo com detalhes da vida de cada um da família. Perguntava se Celine estava fazendo os biscoitos e se estavam ficando macios. Falava sobre a vinda dos parentes da França, para avisarem que não deveriam trazer bonés porque aqui se usavam chapéus de palha que eram muito bem feitos e que Amelie poderia aprender a tecê-los, que daria algum dinheiro. Sobre seus empregados que ficaram em Diamantina, queria saber o tempo que trabalharam, para que fossem pagos com justiça, pois Felix Louis era um homem extremamente correto  e bom pai de família.

Como a construção da grande ponte demorasse muito, cansou-se de ficar sozinho e como em Diamantina não tivesse mais campo para construções e outros serviços, resolveu mudar toda a família para São José da Lagoa  onde ficaram um ano.

Em Diamantina, Celine casou-se com René Brossais que desapareceu  misteriosamente e também na mesma cidade faleceram Joseph Caillaud, Celine Caillaud Brossais e Gustave Caillaud.  Em São José ficaram um ano enquanto a ponte seria terminada, e nesse tempo, nasceu Eugênio.  Faziam planos para

Carta de Felix Louis para sua esposa Amelie

voltarem para a França. A vontade de partir era tão grande que pretendiam mudarem-se para uma cidade a beira-mar e assim estarem mais perto do embarque.

Chegado o grande dia prepararam seus pertences, todo o dinheiro que conseguiram juntar (sessenta contos de réis),  muitos vidros com ouro em estiletes, outros com  pó de ouro,  pedras preciosas, e seguiram para o Rio de Janeiro numa viagem estafante  a cavalo, que durou um mês. George Caillaud ficou em Diamantina, Emmanuel  foi para Belo Horizonte, onde trabalhou em construção e lá existe a Vila Caillaud em sua homenagem.

No Rio de Janeiro já estavam comprando as passagens, quando Félix Louis sentiu-se mal sendo internado na Casa de Saúde Dr.Eiras com ulcera no estômago e como teve tratamento insuficiente, foi transferido para  a Casa de Saúde São Sebastião, onde permaneceu algum tempo sob as vistas de seu amigo Dr. Antônio Felicio dos Santos.

Conta-se que ele teve um acidente em São José da Lagoa. Não dispondo mais de muitos recursos devido ao seu  tratamento prolongado, a família  teve que procurar meio de subsistência indo todos os adultos trabalhar na  fábrica de tecidos da cidade Pau Grande que teve seu nome mudado para Estrela, situada na Raiz da Serra de Petrópolis mais tarde tornando-se fábrica Bangú. Neste local faleceu o grande homem  Felix Louis Guisard, aos 45 anos, sendo sepultado no Cemitério de Inhomirim no dia 22 de Dezembro de 1879. Mais tarde, seu filho Felix Guisard, transladou seus restos mortais para o Ossário da Família Guisard no Cemitério da Ordem Terceira  em Taubaté no dia 11 de Fevereiro de 1929.

Segundo casamento de Amelie com João Sousa Aguiar

Em 10/01/1903, Amelie casou-se novamente, com o cunhado de sua filha Maria,  João de Souza Aguiar, em  Magé, mas ficou viuva pouco tempo depois e  criou uma filha deste, Yvonne, que faleceu solteira em Taubaté.

Infelizmente não possuo nenhuma fotografia de Felix Louis para que pudéssemos ver o rosto deste homem que tanto honrou nossa família.

Os que seguiram para o Rio de Janeiro foram: Felix Louis, Amélie, João Batista, Victor,  Maria Nazaré, Theófilo, Eugênio e Emílio que faleceu aos três anos. E os  tios Leonie e  Maria (Méme’) .

Felix Guisard, filho de Felix Louis nasceu em Teofilo Ottoni, e cresceu em  Diamantina onde foi batizado em Maio de 1866 pelo Exmo. Bispo de  Diamantina. Foram padrinhos François Caillaud, e Leonie Elisabeth Caillaud. Mais adeante contarei a sua vida.

Quando Eugênio estava  com nove anos, foram  morar na rua das Marrecas. Victor casou-se no Rio de Janeiro com Eugênia. Tiveram três filhos: Victor, médico, Aracy e Genny todos  falecidos solteiros no Rio de Janeiro. Seu pai Victor, contraiu febre amarela vindo a falecer em Pau Grande. Emmanuel tornou-se construtor e foi para Belo Horizonte. George ficou em Diamantina. Felix casou-se com Jeanne no Rio de Janeiro e 7 filhos. Maria Nazareth casou-se com Virgílio Sousa Aguiar que vem de família nobre de Portugal.  Tiveram quatro filhos: Carlos, que casou-se com sua prima Hilda Guisard, Clotilde, Carmem e Blondine, todos morando sempre no Rio de Janeiro. Jean Baptiste  já em Taubaté casou-se com Alcina, e tiveram três filhos: Lafayette ,Victor (Vitão) e Lucy, era responsável pela fábrica nova. Theófilo casou-se com Amélia Pereira Lopes e tiveram seis filhos: Julieta, Maria Augusta, Adélia Theophilo, Amélia e Rodolfo. Seu Teófilo como era chamado, dedicou toda sua vida á fabrica C.T.I. da qual falaremos mais tarde . Era responsável pela fábrica velha. Lembro-me que em criança ao passarmos pela fábrica a caminho da Igreja para assistirmos a Missa aos domingos “seu’ Teófilo lá estava sentado á porta da fábrica. Eugênio casou-se com Zilia Nogueira Barbosa e tiveram 10 filhos: Victor, Oswaldo Jaurés, Helena. Rivadávia, falecido ainda criança, Odete, Riveta Olavo e Yvonne. Era responsável pela fabricação de tacos e acessórios para os teares da CTI, em sua fábrica Holdez.

Mas agora que já apresentei a família Guisard vamos voltar á França no ano de 1870, em plena guerra da Prússia.

ROSAND GUISARD

Jacques Rosand e sua esposa Jeanne  Marie Judith Raynaud

JACQUES ROSAND, nascido em Die, Drome, França, em 1850, era filho de Joseph Rosand, de quem não temos nenhuma referência.  Foi casado em segundas núpcias com Jeanne  Marie Judith Raynaud. Os filhos Julian e Marguerite foram do primeiro casamento e Pierre, Jeanne nascida  na França e Rita nascida já no Rio de Janeiro, do casamento com Jeanne Marie. Conheci minha tia-avó Rita no Rio de Janeiro, já idosa, grande florista, ficou conhecida em sua cidade natal, por suas belas flores artificiais. Era baixinha, gordinha, alegre e muito simpática. Ela foi casada com Alvarenga, jornalista. Tiveram um filha Lulu, casada com Severo Dantas, pianista, violinista e comerciante de pianos, profundo conhecedor da obra de Wagner, a ponto de colocar os nomes de seus netos Parcifal, Walquiria e Lohengrin.

A família Rosand vivia em Die, pequena cidade muito antiga com suas ruas tão estreitas que ao abrir-se os braços podia-se tocar nas paredes das casas construídas com pedras escurecidas pelo tempo, portas baixas e na frente das mesmas podíamos encontrar cestos cheios de vermelhas cerejas para vender. No Cemitério fomos procurar alguns Rosand ascendentes e encontramos bem na entrada, o primeiro túmulo que vimos, foi da família Audrá. Nomes de família como Marius e Margarita.

A família Rosand possuía uma grande fábrica de tecidos de lã, a “Grande Fabrique de Filature de Laines” que produzia tecidos de lã para casacos de soldados.

O Rei Pedro da Sérvia fazia  inúmeras visitas aos Rosand sendo recebido na intimidade da família. Fazia grandes encomendas para seu exército. Rosand era muito bem relacionado na cidade possuindo muitos amigos. Seus negócios corriam maravilhosamente bem, quando estourou a guerra da Prússia contra a França. Era Bismark contra Napoleão III. A Prússia  requisitou a fábrica deixando a família Rosand sem recursos como aconteceu com toda a França. Com isso a família se viu  apenas com uma vinha que pertencia a Jeanne, que fabricava o famoso “Clairette de Die” e que era também a região do mais celebre ainda “Chateunneuf du Pape” e  que foi vendida por 5.000 francos para poderem comprar passagens para o Brasil. Naquele momento de desespero em que todos perdiam tudo que tinham amealhado durante gerações, o desejo de todos era fugir para um país tranqüilo onde pudessem trabalhar em paz. E esse país era, certamente, o Brasil. Foi o que a família Rosand fez, levando consigo profundas  mágoas, seguindo para Marseille, onde, com o ultimo franco, compraram uma garrafa de vinho e embarcando  no navio a velas “La Belle Etoile” chegando ao Rio de Janeiro a 6 de Janeiro de 1874. Levaram 56 dias nessa travessia, sofrendo uma calmaria de 15 dias. Já navegavam há 28 dias, tudo parado, nem um sopro de vento. Os alimentos escassos. Falta de água. E  uma noite sentiram o movimento do navio, mas foi por breve tempo. Logo, outra parada. Nesse meio tempo Pierre, o filho mais novo, aos 7 anos, faleceu acometido de febre tifóide, apanhada de outros passageiros, sendo sepultado no mar. Podemos imaginar o sofrimento dessa gente perdendo tudo que tinha  e ainda o filho de maneira tão trágica. Completados os 56 dias de água e céu, cansaço, tristeza, falta de conforto, finalmente chegaram ao Rio de Janeiro que mostrava aos viajantes desalentados toda a sua beleza, o sol e o verde de suas matas. A alegria foi geral fazendo-os  esquecerem-se de todo sofrimento.

Ao chegarem ao Brasil, Jacques Rosand foi contratado por  Mr. Rosenvald para, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro,  iniciarem criação do bicho da seda. Os Rosand tinham parentes em Lion, os Lucindi e Troppo que trabalhavam com fiação de seda, na França, sendo todos experientes no assunto. Como a criação não deu o resultado esperado como o era na França, Rosand aceitou trabalho  como técnico em cardagens e filatura na Fábrica de Macacos, mas esta se incendiou e sabendo de outra  de tecidos riscados para roupa de escravos em São Luis do Paraitinga, seguiram pela Estrada de Ferro D. Pedro II {Central do Brasil} ainda com bitola estreita,  chegando com toda a família  a Cachoeira Paulista onde terminava a estrada.

Título da Estrada de Ferro comprada por Felix Guisard

Daí para diante a viagem continuava a cavalo e carros de bois levando oito dias para chegar ao seu destino. São Luiz produzia muito algodão, daí a existência da fábrica. Rosand achou-se muito distante de tudo, mas diz-se que não quiseram vender-lhe a fábrica porque era estrangeiro. Outra versão é que ele foi convidado para gerir a fábrica.

Resolveram voltar até Porto Real, na EFCB e aceitaram trabalho na fábrica de casimiras Fink, na Fazenda do Conde Nielsen onde havia uma colônia de estrangeiros e felizes ficaram por poderem falar o seu “argot” (dialeto). Lá ficaram por nove anos, de 1875 a 1884. Ganharam dinheiro, compraram um sítio, construíram uma casa, plantaram cana de açúcar, mandioca etc. Em carta enviada a um parente contavam da maravilha que era a mandioca e quantas coisas deliciosas se podia fazer com ela. Estavam contentes por  poderem comprar uma mula que os ajudava na moenda que antes era movida a braços, para fazerem farinha. Naquele mês conseguiram vender cem carros de bois cheios de cana. Depois desse tempo mudaram-se para o Rio para educarem os filhos. Jeanne veio da França com três anos, e nessa época teria 12 ou 13 anos. Julian e Marguerite eram mais velhos e Rita  (Ritine) a caçula. De lá foram para a Fabrica da Raiz da Serra e encontraram Felix Guisard e sua família  trabalhando, ele como chefe da sala de pano (local onde o tecido era dobrado e enfardado). Felix passou  por todas as seções da fábrica chegando  a diretor. As outras pessoas trabalhavam como operários. Os irmãos  foram estudar em Petropolis. Eugênio, com 9 anos e Teófilo  internos na casa do professor Juca Silva, Maria foi para o Colégio Madame Cornélia David e Victor para o Colégio Biolquino. A fábrica foi construída em terreno pantanoso e insalubre, contaminado com muitas doenças como febres amarela e palustre, beribéri e outras.  Havia médicos e Maria era auxiliar de enfermagem, conhecida como Samaria. Felix e Jeanne logo se encantaram um com o outro, nascendo um grande amor  que durou mais de 50 anos e em pouco tempo ficaram noivos. Estavam assim unidas as famílias vindas da França com o mesmo propósito. Casaram-se no Rio de Janeiro na Igreja de São José no dia 27 de Setembro de 1888.

Casamento Jeanne Rosand Guisard e Felix Guisard 1878

Bodas de prata de Jeanne e Felix Guisard 1913

Ele com 26 anos e ela com 18 completados quatro  dias antes, ás 4 horas e meia  da tarde Foram padrinhos Manoel Vicente Lisboa e Julian Rosand e Leonie e Marguerite. Como Lua de Mel tiveram uma viagem para a França e Inglaterra pelo navio da Royal Mail “Cotopaxi”. Regressaram pelo navio “Äconcagua” a 4 de Janeiro de 1889 que na viagem de volta para a Europa naufragou na altura de Pernambuco. A viagem foi para comprar a primeira fábrica de meias na cidade de Troie na França, para a fábrica da  Raiz da Serra. O casal  Felix-Jeanne perdeu seu primeiro filho, Felix. O segundo Felix (meu pai) nasceu a 31 de Março de 1890, em Estrela.

Em 8 de Julho de 1888 faleceu Jacques Rosand chamado carinhosamente pela família de “Père Rosand”, sendo sepultado no Cemitério de Inhomirim, município de Magé.

Seus restos mortais continuam lá por não ter sido possível descobri-los para serem transladados para Taubaté.

Esta é a historia de nossa família francesa. Em seguida vamos entrar no que sabemos do início da vida de Felix Guisard

FELIX GUISARD

Temos acima o seu nascimento e batismo, assim como a permissão de seu pai para estudar no Seminário Caraça, por ser o único colégio existente em Diamantina, onde entrou aos 12 anos e saiu aos 16. Conta-nos Eugênio, que Felix brigou por algum motivo e fugiu do Seminário na Semana Santa e que seu pai severamente levou-o de volta só permitindo que voltasse para casa definitivamente após esta terminada .

Esse período de estudos foi muito proveitoso para o rapaz,  pois Felix adquiriu muito boa instrução além de falar corretamente o francês.

Voltemos agora para a Fábrica da Raiz da Serra onde  vamos encontrá-lo já casado, e gerente da  mesma. Começou ganhando 800 reis por dia, passando para 1$000, depois passou a trabalhar no escritório ganhando 2$000 como gerente, e pedindo aumento deram-lhe  60$000 por mês corrido. Nessa época, 1887, houve no Rio de Janeiro uma grande exposição textil onde foi apresentado um tecido criado por ele e que mereceu uma medalha  de ouro  pelo seu trabalho.

Em passeio a Caxambu para uma estação de águas, encontrou seu amigo Dr. Rodrigo Nazareth de Sousa que o convidou a montar a fábrica CTI, sendo ele o primeiro acionista, e os demais da família e ingleses.

Felix Guisard também tinha ouvido sobre a tal fábrica de São Luiz do Paraitinga e interessado, tentou  negociá-la, mas não teve sucesso. Ao voltar para Taubaté pesquisou, aprovou o lugar e  resolveu estabelecer-se. A cidade  era iluminada a gás de xisto e  possuía linhas de bondes. Felix visitou Tremembé que tinha como transporte para Taubaté, um bonde a vapor. Em Taubaté, comprou um terreno onde muito mais tarde foi a Companhia Fabril de Juta de Mário Audrá. Adquiriu então um quarteirão onde morou (local do Asilo de Mendicância) e começou sua vida em Taubaté, comprando grande quantidade de terras onde construiu a CTI, as casas da família e a Chácara com 45 alqueires onde hoje se encontra o Bairro da Independência, e mais tarde a vila operaria da CTI. com 240 casas.

Vieram para Taubaté, Felix, Jeanne, o filho Felix nascido em Estrela, os irmãos Teófilo, Batista, e Eugênio, sua mãe Amélia e as cunhadas Leonie e Maria todos já com nomes abrasileirados, e a vontade firme de vencer, com o lema Paciência, Prudência e Perseverança.

Felix foi ao Rio de Janeiro onde comprou máquinas para uma pequena fábrica de  meias onde a professora foi a Vovó Jeanne ensinando as operarias a tecerem.

Primeira residência de Felix Guisard

Moraram em varias casas depois que deixaram  o lugar onde foi o Asilo de pobres  que foi construído por meu avô e doado à Prefeitura, tendo ele deixado uma renda mensal para a manutenção do mesmo. Depois morou na Rua São João. Violeta casou-se com Gontran  Reis e foram morar na Monção.

Com o tempo, Felix construiu uma boa casa térrea

Primeira casa de Felix Guisard na Av. Tiradentes

(a parte de baixo do casarão onde hoje é a Escola Jardim das Nações) onde nasceram Alberto em 1891, Violeta em   1893, Raul em 1897, Octavio em 1899 e  Hilda em 1901. Em 27 de Setembro de 1919  inauguraram o belo palacete na Avenida Tiradentes onde ficaram por uns 30 anos. Lá faleceu meu avô aos 80 anos. Minha avó Jeanne continuou na casa até o dia em que esta se  incendiou por completo restando apenas duas paredes laterais que foram demolidas. Quando foi feito o loteamento Jardim das Nações a Família Guisard doou o terreno para que fosse construído o Hospital Santa Isabel de Clinicas (HOSIC). Palacete dos Guisard

FUNDAÇÃO DA CTI

Primeira Presidência CTI

Felix Guisard veio cinco vezes do Rio de Janeiro, ficando hospedado no Hotel Pereira para organizar e acompanhar os trabalhos.

A CTI foi fundada em  04 de Maio de 1891, com um capital de 300.000,000 (trezentos contos de reis)

A primeira fábrica trabalhava com meias e camisas de meias, na Rua 4 de Março.

Em 1903 a fábrica foi para a avenida 9 de Julho onde iniciaram com tecidos riscados e toalhas de banho.

Em 1910  foi aumentada com 224 teares e então entrou em fabricação o famoso Morim Ave Maria. Em 1912  foram comprados mais 868 teares para o não menos conhecido cretone Canário, ambos vendidos em todo o Brasil, na África, EE.UU. e Inglaterra. pela Firma Edward Ashworth e Cia, agentes gerais da CTI desde 1901.

Diretoria da CTI de 4 de maio de 1918 a 4 de maio de 1922.

Dr. Rodrigo Nazareth de Sousa Reis 1o Presidente

Waldemar Bertelsen – 1º Diretor Comercial

Felix Guisard  – 1º Diretor Gerente

Diretoria a 4 de Maio de 1921

C H Craig-Presidente.

Felix Guisard Filho-Vice-Presidente.

Felix Guisard-Diretor Gerente

Segunda Presidência CTI

Faziam parte também ,os Srs. Dr.Arthur Torres e Waldemar Bertensen.

Com o aumento da fábrica, Felix Guisard  resolveu construir sua própria usina  elétrica, encontrando o lugar ideal em Redenção da Serra depois de visitar  outras como  Natividade,  dentre elas. Mas a dificuldade de transportar todo o equipamento necessário resultou em muita luta e trabalho. Sua construção começou em 1922 e terminou em 1927. A primeira  firma contratada para a Construção  da Usina desistiu por achar que a obra era impraticável, mas Felix Guisard não desanimava facilmente. Resolveu edificá-la por sua própria conta.

Usina Elétrica de Redenção da Serra

Foi encomendada nos Estados Unidos uma carreta daquelas usadas no desbravamento do Oeste Americano, com os eixos moveis na frente e atrás, afim de possibilitar fazer curvas muito fechadas. Eram destinadas a transportar os postes que trariam os fios elétricos da usina para a cidade, assim como as pesadas peças e turbina, algumas com mais de 10 toneladas. Foram feitas mais copias dessa carreta mas a dificuldade que tiveram para esse transporte foi imensa. Eram puxadas por tratores e muitas vezes encontravam outra carreta em sentido contrário na estrada extremamente estreita, acontecendo uma vez em que um dos tratores dirigidos por meu tio Otávio Guisard, perdendo o freio passou por cima do outro tendo Otávio felizmente saltado a tempo. José Nogueira de Matos Neto chefiava a turma de trabalhadores tratoristas, serventes. e boiadeiros, numa luta titânica para vencerem os 40 quilômetros de lama e buracos que chamavam de  estrada. Felix foi ao Rio de     Janeiro a fim de  contratar vários escafandristas gregos, e um engenheiro russo fugido do comunismo chamado Waldemar Tietz.
Octávio também mergulhava no rio vestido com pesadas roupas de escafandro usadas na época para pesquisar o fundo. Evandalo Monteiro, meu tio cuidava que não faltasse ar para os mergulhadores.

Evandalo Monteiro / Octávio Guisard

O sucesso da empresa deveu-se á força de vontade férrea, à Paciência, à Prudência e à Perseverança de Felix Guisard seguindo o seu lema. O investimento custou a soma de sete mil contos de reis.

Eu, ainda bem menina com 6 anos fui á inauguração da Usina no dia 14 de julho de 1927 onde houve um grande almoço para toda a família, amigos, o Padre que rezou a Santa Missa e abençoou a Usina, convidados de Redenção e todos os operários com os quais foi possível a realização de tão grande empreedimento. Uma das lembranças mais agradáveis que tenho é da Fazenda da Usina que se chama Fazenda Ponte Alta, situada ao lado do Rio, onde  muitas vezes passei as férias em completa calma, ou  com toda a família, com meus primos, meus tios muito moços alegrando-nos com mágicas e outros brinquedos.

Em 1928 Felix, Jeanne, Hilda e Carlos, Violeta e Gontran viajaram para a Europa.

Um ano depois o maior mercado financeiro do mundo, Wall Street, deixou fortunas diminuídas da noite para o dia. O café, nosso principal produto de exportação, caiu de cotação deixando milionários  empobrecidos e a Firma Edward Ashworsh & Cia pediu concordata, deixando a CTI com um encargo de 4 milhões de cruzeiros porque era solidária com a firma atingida embora o seu capital fosse de 5 milhões de cruzeiros.  Felix foi para o Rio de Janeiro e pediu ajuda ao presidente Washington Luis que era seu amigo mas, não podendo ajudá-lo aconselho-o a lançar “debentures”{títulos de crédito} no mercado, o que foi feito com pleno êxito sendo todos adquiridos em poucos dias, demonstrando a confiança que depositavam na CTI.  Então aconteceu a coisa mais inesperada e bonita que  se poderia  imaginar. Os operários em comitiva apresentaram-se ao “velhinho” como o chamavam carinhosamente, e disseram:– “Seu Felix”, nós viemos dizer que vamos trabalhar mais duas horas por dia sem remuneração para ajudá-lo.

Pode-se imaginar a emoção que sentiu meu avô ao ouvir tamanho reconhecimento da parte de seus queridos operários, não conseguindo conter as lagrimas. Eles trabalharam  nessas condições por dois anos.

Meu avô Felix comprou, lá por 1933, o Casarão chamado Sobrado do Porto, em Ubatuba.

Sobrado do Porto Ubatuba

Foi construído por Manoel Baltazar da Cunha Fortes, comerciante português. Depois vendeu-o a Julius Kerstz, húngaro, que fez dele, o Hotel e Restaurante Budapest  que, por sua vez, vendeu-o a meu avô. O Sobrado do Porto Ubatuba prédio foi todo construído com material vindo de Portugal. Até os batentes de pedra vieram como lastro do navio. Felizmente  meu avô o preservou . Comprou também algumas terras e um pedaço da praia do Perequê. A primeira vez que fui lá, em 1934, eu estava com 13 anos de idade. A estrada era interminável, toda esburacada e quando chovia o carro atolava na lama e era preciso procurar a fazenda mais próxima para emprestar uma junta de bois para arrancar o carro do atoleiro.  Mas ao chegarmos ao alto da serra o mar nos aparecia com o azul do céu refletido, formando um todo de beleza incrível, fazendo-nos esquecer todo o cansaço da viagem. O Casarão era muito agradável. Ubatuba, uma cidade morta. A luz dos postes era apenas uma lâmpada amarela que não iluminava nada, mas também não havia necessidade de luz,  pois ninguém andava na rua á noite. O bom  era irmos à pé duas vezes por dia á praia do Perequê para deliciosos banhos de mar onde éramos os únicos banhistas.

Algumas vezes eu ia com meu pai á noite até a casa do telegrafista Gilberto Nogueira Brandão onde ele mantinha contato com os aviões da Air France que tinham em Ubatuba, seu ponto de apoio. Era também radio amador e meu pai podia saber notícias de Taubaté falando com Emílio Amadei Beringhs.

Conto tudo isso para dizer que meu avô Felix usou o excedente de eletricidade da Usina da CTI, para iluminar Ubatuba com a sua praça circundada de casarões com seus balcões de ferro batido no mais belo estilo colonial,  o que foi uma verdadeira festa para os moradores e os poucos visitantes que se atreviam a enfrentar uma estrada de lama e derrapagens. Foram também iluminadas as cidades de Redenção, Paraibuna e Natividade. Assim era o ano de 1934. Mais tarde quando a estrada foi melhorada a  CTI construiu alojamentos, casas, cozinha e salão de baile para os operários  em férias coletivas. Felix Guisard foi o primeiro empresário a dar férias coletivas em Colônia especialmente construída  com uma infra-estrutura de um “Hotel de Categoria”, onde os operários com suas famílias se hospedavam com direito a refeições, roupa de cama e toalhas de banho, fabricadas na CTI, e roupa lavada. A turma que trabalhava servindo  ou fazendo a manutenção da fábrica em Taubaté, teria suas férias em outro período com as mesmas regalias. Faziam passeios de caminhão pela região.

Operários da CTI em férias coletivas – Ubatuba

Terminada  a usina apareceu mais um grande problema. A lama do rio entrava pela turbina sendo necessário parar para limpeza.  Mas a fabrica não podia ficar sem energia elétrica. A solução foi encomendar à Sociedade Industrial e Comercial Suissa-Brasileira, cujo representante era o engenheiro eletricista Francisco Rodolfo Roybroeck um grande motor Diesel com 1000 cavalos de força  que substituiria a parada para a manutenção da Usina. Em criança, lembro-me da trepidação da terra na nossa casa. quando ele trabalhava. Até hoje lá está ele, guardado no seu edifício original com o teto arredondado, sem que ninguém se lembre de sua existência. Eu mesma, nunca mais o vi. Seria bem interessante se os alunos das escolas fizessem uma visita e conhecessem os meios  usados naquela época.

 Edifício do Motor Diesel

Motor de 1000 HP

Adiantei-me um pouco no tempo, mas voltemos ao começo da CTI.

 Motor Diesel

No dia 19 de Março de 1898, houve um incêndio na fábrica, às 10 horas  da manhã. Não houve feridos por ser a hora do almoço. Queimaram as seções de meias e camisas de meias. Destruída  a tecelagem e o acabamento dos artigos de malha, ficaram só as paredes.

José Pereira da Silva Barros, Bispo de Taubaté solidário, perguntou a meu avô si ele estava desanimado. Felix Guisard com a firmeza e fibra que lhe era peculiar, respondeu que reconstruiria tudo, apesar de estar pagando um empréstimo de 160 contos de reis. D. José deu-lhe uma carta de apresentação ao então Presidente (usava-se presidente em vez de Governador) de São Paulo Dr. Bernardino de Campos, redigida por Monsenhor Valois de Castro.

Félix Guisard não perdeu tempo. Foi ao Rio de Janeiro, conseguiu moratória com o Presidente do Banco do Brasil, Afonso Penna, comprou maquinas para camisas de meias da Fiação São Lázaro que estava em liquidação, voltou para Taubaté e com sua esposa Jeanne, trabalhou dia e noite até se equilibrarem as finanças.

O empréstimo a que se referiu foi obtido com o auxílio de grandes acionistas ingleses da Casa Ashwort por intermédio de Mister Craig, que se tornou Presidente da CTI e grande amigo de meu avô.

Mas não foram  só estas as dificuldades por que passou.

Em 1903 já estava construída a nova fábrica da avenida 9 de Julho com tecelagem de riscados usadas na época para roupas de homem e de toalhas de banho. Sua cunhada Leonie fazia a guarda noturna até meia-noite, quando era então revezada por Augusto Lopes Pereira  sogro de Teófilo Guisard. Para sua tristeza, durante a sua guarda, caiu um balão provocando outro incêndio de menores proporções. Mais um incêndio abalava o corajoso homem. Mas não seria o último.

Suas cunhadas trabalhavam  em todos os serviços, para ajudar, até assentando ladrilhos.

A CTI sofreu apenas uma única  greve, provocada por uma mulher, conhecida  por nome de Maria Homem, que dirigia alguns descontentes. Minha bisavó Amélia muniu-se de uma espingarda e na porta da fábrica acabou com a greve. Maria Homem foi  expulsa e colocada no primeiro trem que passou. As mulheres da família também mostravam a sua coragem para vencer os dissabores que se lhes apresentavam .

Em 1910 a fábrica já possuía 224 teares e trabalhava com morins (tecido fino de algodão) que era vendido no Brasil e exportado para a África.

E em 1912 foi construída a terceira fábrica  com 868 teares para morins e cretones, que eram distribuídos  em todo o Brasil pela firma Eduardo Ashworth e Cia, agentes gerais desde 1901.

Nesse tempo, Taubaté já sofria com falta d’água e o prefeito da época resolveu cortar o seu fornecimento para CTI por achar que o gasto da mesma era exagerado. Com isso foi perdida grande  quantidade de tecido que estava sendo alvejada com cloro.

E, mais uma vez, Felix Guisard enfrentou outro sério problema. Mandou perfurar um poço artesiano na sua chácara, onde hoje está o Esporte Clube Taubaté, que, pelo  volume do lençol freático, resultou num poço surgente. (sem necessidade de bombas). Construiu reservatórios e por meio de túneis com canos abasteceu todas as dependências da fábrica. Os túneis foram necessários porque a Prefeitura de Taubaté não permitia que particulares  abrissem valetas nas ruas. Hoje, essa água abastece as belas piscinas do Esporte Clube.

Um outro túnel, mais largo, foi aberto atravessando a Av. 9 de Julho  entre as duas fábricas, com a finalidade de alterar o sistema de passagem por carros carregados de peças de tecidos do setor de alvejamento para o de acabamento, o que ocasionava, com o tráfego intenso, (já que ali era a Estrada Rio/S.Paulo),  afim de serem dobrados e etiquetados com a estampa do morim Ave Maria e do cretone Canário. Esse túnel era provido de argolas de porcelana por onde passava o tecido, costurada uma peça à outra, para a seção de alvejamento, após o tecido ia para as calandras, para serem dobrados e etiquetados.

Foi aberto um outro túnel mas seu uso foi por pouco tempo, que serviria para passagem do algodão em flocos do almoxarifado por dentro de tubos de sucção e que passava pela descarroçadeira ou, se não fosse necessário porque o algodão já estivesse em flocos, diretamente para a seção de batedores – carda e fiação.

Companhia Taubaté Industrial – Primeiro Escritório

Fabrica de Cretones – CTI

Fabrica de Morins – CTI

Fabrica de Cretones – CTI

Sala dos Teares

A guerra de 1914.

 A guerra de 1914 deixou Felix Guisard muito preocupado. Ele conhecia bem o sofrimento que ela poderia trazer, pois cresceu ouvindo de seu pai e seus avós, todo o desespero por que passaram na Europa quando, por ocasião da guerra da França contra a Prussia, perderam tudo que possuíam. Uma guerra na Europa repercutiria nos negócios do Brasil.

Dentro do seu coração, sentia as palavras de seu pai, que desejava voltar para a França,  possibilitando que todos os seu filhos estudassem na Academia Militar de Saint Cyr.

Uma crise mundial afetou severamente a CTI. que então teve ajuda de acionistas ingleses  e de Mr. Ford, dono das Industrias Ford nos Estados Unidos.

Os alemães não entraram em Paris. As tropas francesas os seguraram nas margens do Rio Marne, local propício para, num ataque fulminante, acabar com a guerra. Entretanto, o Mal. Joffre verificou que não havia meio de transporte para os últimos contingentes de tropas que estavam em Paris. Então, requisitou os 7.000 taxis da cidade  e numa grande batalha, foram vitoriosos sendo assinado o armistício e o fim da Guerra.

Um dia antes desse acontecimento, meu avô Felix, meu tio Raul e o amigo Astério Braga,  fizeram uma “viagem” até Natividade com seu Fordinho de Bigode. A viagem durou mais de 12 horas e pararam muitas vezes para remendar 14 pneus furados. Era preciso tirar o pneu da roda, remendar, colar, repor na roda e encher á mão com bomba de ar.  Saídos  de Taubaté de madrugada só chegaram  ao  começo da noite na Vila de Natividade. O espetáculo do Fordinho chegando, roncando sem o escapamento que foi perdido no caminho, caminho este que ás vezes não existia cruzando os campos das  fazendas, foi qualquer coisa de fantástico. As pessoas corriam, as crianças entravam em casa amedrontadas. Depois disseram  pensar que fosse um terremoto, outras que fosse o cinema chegando. Foi o acontecimento do ano. Pernoitaram na pensão do Sr Antônio Guitrin.   No dia seguinte, fizeram as visitas a que foram e voltaram admirados com a eficiência do motor do fordinho funcionando durante 10 horas sem parar. Ao  regressarem à Taubaté, no casarão da av. Tiradentes, viram ao longe seus filhos festejando sua chegada, sacudindo jornais nas mãos, gritando: Vitoria do Marne! O avanço alemão foi barrado! Felix Guisard em lagrimas lia as noticias, devorando os jornais, repetindo maquinalmente: 1870-1914. Estava feliz. Podia, agora, trabalhar tranqüilo. A guerra tinha acabado.

O casal Felix-Jeanne teve 7 filhos .O primeiro Félix faleceu ao nascer.

Félix, Violeta, Alberto, Olga, Raul, Octávio e Hilda, onde mais à frente falarei um resumo de suas vidas.

Trabalhavam com ele na CTI, todos os filhos, os  irmãos, netos, sobrinhos e  sobrinhos-netos.

Viagem à Europa

Em  Julho de 1919, Felix e Jeanne viajaram para a Europa a convite da Britsh Federation. Partiram  para Londres e Paris. Felix Guisard representava a Federação das Industrias de São Paulo. Conta  em suas cartas que tem recebido homenagens diárias sendo que ás vezes, almoços e jantares no mesmo dia. Que precisa cuidar-se porque está engordando. São banquetes diários. Em 7 de Agosto de 1919 escreveu a seus filhos uma carta que, entre  inúmeras outras, escolhi para constar desse relato: Conta que foi convidado para um banquete,  sentando-se no lugar de honra. Em sua homenagem, falou-se em francês. Tinha a seu lado o Sr Rotchild e seu irmão, muito simpáticos e do outro lado o Sr Fiards, gerente da Schiraider, que emprestou setenta e cinco milhões de libras esterlinas para  o Estado de São Paulo.

Estava também o Sr Silliers, gerente da Casa Barin, maiores banqueiros do mundo. Este senhor escreveu um cartão oferecendo-se para o que meu avô precisasse, assinando em baixo. Foi uma amabilidade dirigida somente a ele. Depois foram visitar a refinação de ouro da Casa Rotchild {que tinha só empregados franceses}. Viu milhões de libras esterlinas em barras de ouro e prata. Viu, também, derreter milhões de marcos em ouro que os alemães pagaram aos ingleses pelos alimentos fornecidos após o armistício.

Visitou  a Câmara dos Comuns. Continuou essa viagem pela Inglaterra e pela França. Tiveram, ainda, um banquete oferecido pelo Governo Britânico.

Em outras cartas, conta que visitou fábricas de seda e de lã em Manchester. Critica a tão afamada ordem Inglesa pois só encontrou desordem desde a Alfândega até nos horários de trens e vapores.

Acha tudo muito atrasado, elogiando o que temos no  Brasil. Foram para Portugal e Espanha e se encantaram com  castelos e belezas dos países. Estava hospedado no Savoy Hotel por conta do Governo Inglês. Esta carta era endereçada à cunhada Rita, à sua filha Lulú e à cunhada Maria.

Nesta viagem ele aproveitou para fazer muitos negócios para a fábrica, pois diz que mal tem tempo para escrever. Conta do preço do algodão, do polvilho inglês que era usado para engomar o tecido e também que a carne do nosso gado zebú lá é usada para alimentar os animais do zoológico. Ao final da carta,  pede que coloquem no quadro de avisos da fábrica, que ele manda lembranças para todos os operários. Ao voltar da viagem, seu entusiasmo para o trabalho cresceu, e ele, como estava muito bem de finanças, começou a melhorar o bem estar dos trabalhadores.

A CTI  possuía atendimento médico com 3 médicos e farmácia com 5 farmacêuticos, sendo uma  mulher.

Clube recreativo, com brincadeiras dançantes todo final de semana. Bailes, carnaval com desfile de blocos, teatro amador   e orquestra, cujos músicos eram todos, operários. Cinema, jornal,  cooperativa de consumo, clube poliesportivo e colônia de férias.

Construiu muitas casas que financiava para os operários.

Não esqueceu das crianças, criando o Grupo Escolar da CTI, onde, além da instrução, os alunos recebiam refeição completa, uniformes e todo o material escolar, atendimento dentário, médico e oftalmológico, além de fanfarra.

Os menores que não tinham idade para freqüentar a escola, ficavam na creche, para que suas mães pudessem trabalhar.

Fui a muitas festas, teatro e shows que eram bem divertidos.

De uma vez mandou realizar 60 casamentos em que doou as roupas  e a festa com um bolo de 2 metros feito por Dinorah Querido Guisard.

Mas não foi só dos operários que Felix Guisard cuidou. Ele era um homem muito simples e principalmente muito humano, e assim sendo,  não se esqueceu dos pobres, das crianças e dos velhos da cidade. Já falei do Asilo dos Pobres. Construiu um pavilhão do Hospital destinado ao tratamento de tuberculose, um outro para as crianças  do Orfanato Santa Verônica. Ajudou na reforma da Catedral, e muitas outras Igrejas. Sabia fazer caridade em silêncio.

Sofreu imensamente com a perda de seus dois filhos: Octavio aos 37 anos e Olga aos 41 anos. Como Olga  teve dois filhos natimortos, Felix e Jeanne foram herdeiros de uma parte de sua herança que foi destinada à feitura do altar em mármore, da Igreja de Santa Terezinha.

Felix Guisard era uma pessoa muito inteligente. Suas ideias eram avançadas em mais de cinqüenta anos, de mas era de uma simplicidade enorme. Vestia-se com tecidos de algodão feitos por ele, na fábrica. Uma de mas era de uma simplicidade enorme. Vestia-se com tecidos de algodão feitos por ele, na fábrica. Uma de suas idéias, mais ou menos  em 1930,  era vender no mercado, frangos mortos e limpos, como compramos hoje, mas a população não aceitou tanto modernismo. Era minucioso, tudo tinha o seu lugar.

Uma das coisas que mais me divertia era quando meu pai me levava à noite a sua casa, para ouvir no rádio, as notícias da Revolução de São Paulo transmitidas pelo grande radialista Cezar Ladeira, em que, o que se ouvia eram estrondos e silvos que me faziam esconder o riso. Nessa época eu tinha 11 anos.

Etiqueta colocada em cima da peça de morin Ave Maria

O Palacete dos Guisard como era chamado, foi construído em 1926. Vovô tinha seu escritório no porão  e minha avó Jeanne ficava dois andares acima no que ela chamava de “salãozinho”. Era o seu cantinho particular muito a seu gosto francês, cheio de cortinas, tapetes e almofadas em quantidade. Com a idade e dificuldade de descer as escadas foi colocado um elevador. Mas aquele era o seu lugar preferido.

As salas de visitas, uma em estilo Luis XV, com sofá e poltronas em madeira recobertas com ouro, os estofamentos de “gobelins” trazidos da França, tapetes com o mesmo motivo dos ‘gobelins”, vitrines cheias de pequenas peças de valor, lustres, abajures, tudo estilo “art-nouveau” em moda nos anos 20, tudo recordação da última viagem, desta vez como turistas. A outra sala de visitas era em estilo Luis XIV. Os móveis em madeira escura, gobelins e  igualmente  bonita. Quando eu fiz 12 anos, compareci ao Baile de Primavera, em sua casa, que coincidia com o aniversário de vovó Jeanne, dia 23 de Setembro.  Foi uma festa a rigor e eu não tinha idade para usar vestido longo. Fiquei um pouco decepcionada mas a nossa educação era a moda antiga e criança não opinava. Mas dancei e me diverti muito. Nos aniversários seguintes, vovó modificou as festas pedindo que todas as moças fossem vestidas de uma só cor. Havia orquestra e o jardim foi todo iluminado.

O casarão tinha 7 quartos em cima. A suite principal, com duas camas de metal dourado, toda enfeitada de guirlandas de rosas delicadas. Mas com a idade avançada, minha avó não podia mais suportar as janelas abertas com as cortinas voando, tanto ao gosto de vovô. O amor dos dois era invejável e vovó não queria separar de quartos. A solução foi colocar um vidro no arco que separava o quarto de dormir do de vestir e vovó colocou sua cama bem perto do vidro podendo assim ficarem juntos sem ventanias.

Havia  a grande sala de jantar onde nos aniversários, vovô preparava pessoalmente os “escargots”, servidos em porcelana de Limoges,  cristais de Bacarat  e toalhas de linho adamascado. Havia  também o grande salão de inverno onde  serviam-se os almoços quando a família estava completa e tinham convidados, todo enfeitado com muitas plantas e flores.

No grande quadrado de cimento, rodeado de velhas mangueiras com sua sombra refrescando os convidados, situado no jardim, festejávamos o dia 1o do ano. Uma mesa enorme enfeitada de flores e toda a família reunida, sempre muito alegre, tornava-se uma festa para mim.

Família Guisard e amigos no 72º Aniversário de Felix Guisard

Meu avô foi eleito prefeito de Taubaté mas com a Revolução de São Paulo em 1924, foi destituído do cargo e nomeado interventor, o Major Zanani. Como prefeito melhorou o abastecimento de água da cidade, planejou a rede de esgoto e o calçamento das ruas com paralelepipedos, abriu estradas municipais. Criou a Escola Felix Guisard para formação de técnicos para as industrias téxteis, que mais tarde se tornou a Escola Senai. Criou o Distrito de Quiririm.

Lembro-me dele sendo carregado nos ombros pela população da cidade até seu palacete na avenida Tiradentes. Eu, do alto do terraço de nossa casa, assisti a manifestação. O tempo foi passando, os netos crescendo e casando e os bisnetos nascendo. Vovô e vovó continuando sua vida de trabalho. Aos 13, anos vovó me levou para o Rio de Janeiro onde eu havia estado apenas com 6 anos, ao embarcar para a Europa. O passeio me encantou como encanta a todos que vão ao Rio pela primeira vez. Hospedamo-nos no apartamento de Tia Hilda, que ficava no Leme, de frente para a praia onde eu tomava banhos de mar. Almoçávamos na Colombo e tomávamos chá na Brasileira da cidade.

A família era muito unida. O casal recebia a visita de seus filhos todos os dias. Papai e eu íamos vê-los depois do almoço. Vovô gostava de cochilar enquanto dava uma volta de automóvel na sua chácara, toda plantada com laranjeiras. Vovó ia sentada atrás rodeada de almofadas e eu ia junto. Não podíamos conversar porque vovô dormia enquanto passeávamos. Havia um grande lago onde ele parava para alimentar com pão, as carpas enormes que comiam nas suas mãos.

Vou contar agora, o que era a chácara. Começava na Avenida Tiradentes e acabava onde hoje é o Quartel da Polícia Militar na Independência. Pelo outro lado, chegava até a Estrada de Ferro, atual Av. Itália. Tinha 45 alqueires paulistas de plantação de laranjas, que eram exportadas para a Inglaterra. Meu avô criou um tipo tipo de laranja ao gosto dos Ingleses que não era muito doce, não tinha sementes e batizou-a de Diva. Eram colhidas com tesoura especial, e depois levadas para o Packing House (casa de empacotar) onde numa esteira rolante eram lavadas, secadas, passadas em parafina e embrulhadas em papel impermeável. Depois de encaixotadas, seguiam pela estrada de ferro para o Rio de Janeiro e eram embarcardas para a Inglaterra. Isso, nos anos 30. Quando estourou a guerra de 40, alemães torpedeavam e afundavam os navios.

Então, não sendo possível exportá-las mais, meu sogro Mário Audrá, montou uma fábrica de sucos concentrados e exportou-os para uso dos soldados norte-americanos. Assim, não foram perdidas todas as safras. A gasolina estava racionada e foi feito álcool de laranja que fazia funcionar os caminhões que, em vez de poluir, perfumavam as ruas por onde passavam.

Plantação de Laranjas – Chácara Guisard

O divertimento de meu avô, era ler sempre em francês, ir a teatros, viagens à Europa, passeios por toda a região do Vale, pescarias no rio Paraíba,  principalmente piqueniques à moda francesa, com mesa e cadeiras desmontáveis.

Quando ficou mais velho, gostava muito de ir ao cinema. Acontece que só havia o Cine-Teatro Politheama que trocava de filme todas as noites. E meu avô, invariavelmente, passava na nossa casa e eu já estava pronta para entrar no carro e  passarmos na casa de tio Alberto onde Daisy, minha prima, ia conosco. Os filmes eram muito bons, com ótimos artistas e dançarinos, tudo em preto e branco não havendo filmes impróprios. Depois vieram os filmes coloridos e foi construído o Cine Palas e o Politheama mudou  o nome para Metrópole  depois de sofrer uma reforma.

Um dos maiores prazeres de meu avô era ir para Ubatuba onde se hospedava no terceiro andar do Sobrado do Porto. Abria todas as janelas e deixava o vento correr. Tinha lá um aparelho de radioamador com o qual se comunicava com Emílio Amadei Beringhs, seu grande amigo.

Ao comemorar 76 anos, Jeanne e Felix festejaram suas Bodas de Ouro no dia 27 de Setembro de 1938 e sua filha Hilda preparou uma festa que começou com uma Missa festiva, na Catedral. Durante o dia,  todas as escolas, instituições assistenciais e operários da CTI, foram cumprimentá-lo. Num grande almoço no jardim de inverno de sua casa, recebeu toda a família e amigos íntimos. À noite, numa grande recepção para a sociedade Taubateana, foi oferecida uma bela mesa de doces acompanhada de champagne francesa.

Nesse mesmo dia foi lançado a pedra fundamental do prédio dos escritórios da CTI (prédio do relógio). Sendo na época o Presidente da República Dr. Getúlio Vargas, Interventor Federal Dr. Ademar de Barros e Prefeito Municipal Alvaro Marcondes de Matos. Foram colocados na fundação do prédio jornais do dia, moedas e  pedaços de tecidos do morin Ave Maria e dos Cretones Canário fabricados na fábrica. Assinaram a ata todos os presentes.

Aos 80 anos, sentiu-se mal em Ubatuba, sendo trazido para Taubaté, viveu apenas mais dois dias. Sofria de diabetes há muito tempo. Pediu que o levassem até o torreão de sua casa e olhando para sua fábrica, disse que, quando morresse, queria que seu féretro passasse por todas as seções da fábrica. Seu desejo foi cumprido. Recebeu de Pe. Cícero os Sacramentos e no dia  19 de Março de 1942, descansou deixando uma vida de exemplos, dedicação à sua família, amor ao próximo, e muitas outras virtudes. Seu féretro foi acompanhado por toda a população de Taubaté. Um avião deixava cair pétalas de rosas. Morreu um Grande-Homem. Suas ultimas palavras foram:

“Meu Deus, eu sou um homem feliz.

Tudo seguirá como se eu não tivesse morrido.

Não tenho inimigos, nada tenho a perdoar.

Meu Deus Misericórdia, perdoa os meus pecados, tende piedade de meus filhos e abençoai a minha descendência.”

Seu túmulo fica na entrada do Cemitério da Ordem Terceira no Convento de Santa Clara. Sobre ele está o busto em bronze de FELIX GUISARD. Meu pai e os tios Alberto e Raul continuaram na direção da CTI por mais 10 anos até que a fábrica foi vendida em 1954. Essa é a vida do dia a dia de meu avô. Eu convivi com  ele desde muito pequena até a sua morte. Ele era uma pessoa carinhosa, amava sua  família, foi um chefe exemplar. Todos gostavam dele.

Deixou muitas saudades.

Casamento de Jeane e Felix Guisard em 27 de Setembro de 1888

Bodas de Prata de Jeane e Felix Guisard em 27 de Setembro de 1913

Bodas de Ouro de Jeane e Felix Guisard em 27 de Setembro de 1938

Família completa nas Bodas de Ouro de Felix e Jeanne

FELIX GUISARD FILHO

Falarei agora sobre a vida de meu pai..

Nasceu em 31 de Março de 1890. Faleceu em 06 de Outubro de 1964.

Nasceu em Estrela, Raiz da Serra de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro. Formou-se em Ciências e Letras no Colégio São Luiz de Itú, de Padres Jesuítas acompanhando o seu irmão Alberto e Medicina na Faculdade do Rio de Janeiro.. Gostava imensamente dos estudos. As recordações desse tempo eram sempre saudosas. Estudou grego antigo e latim falava francês, espanhol. Conhecia italiano e um pouco de japonês. Cheguei a ouvi-lo conversar em latim com um Padre estrangeiro. Terminados os estudos foi para o Rio de Janeiro onde fez o curso de Medicina completado em 5 anos, cursando dois anos juntos e diplomou-se em 1914. Defendeu tese sobre prostituição. Foram seus professores: Miguel Couto, Antônio Austregesilo e Benjamim Batista. Muito inteligente possuía uma memória prodigiosa. Ao terminar veio para Taubaté em 31 de Julho de 1916 casou-se com minha mãe Maria Eulalia Monteiro. Foram morar na Rua Pedro Costa onde nasceu a primeira filha Letícía  em 1917. Abriu seu consultório e comprou o primeiro aparelho de Raios X da cidade. Tinha boa clientela. Naquele tempo não haviam medicamentos prontos, sendo suas receitas manipuladas muito eficazes. Foi professor da escola de Farmácia e  Odontologia de Pindamonhangaba. Fazia operações cirúrgicas no Hospital Santa Isabel (hoje Hospital Escola) onde foi Provedor e Diretor Clínico. Fez pesquisas sobre a lepra conseguindo  cura de  alguns pacientes, usando azul de metileno e óleo da planta do Tunge. Com o falecimento de seu sogro Augusto Cesar Monteiro, comprou dos herdeiros a Fazenda Cataguá. E em  14 de Julho de 1917 tiveram sua primeira filha Leticia. Em 7 de Junho de 1921  eu nasci em São Paulo , Felix Netto em 16 de Janeiro de 1930 e José Luis Jacques em 25 de julho de 1932, já nasceram no casarão da avenida Tiradentes.

Meu pai clinicou em Taubaté por 10 anos, deixando a medicina para ser Diretor e  depois Presidente da Companhia Taubaté Industrial. Em 1926 comprou a casa em que meus avós moravam e construiu o segundo andar, hoje Escola Jardim das Nações. Em 1927 viajamos meu pai minha mãe Leticia  e eu para a Europa em companhia de tio Alberto, tia Mercedes Daisy e Albertinho e a Babá Rita. Fomos pelo navio inglês Alcântara e voltamos pelo Almanzorra. Estivemos em Portugal Espanha e França. Ficamos três meses em Paris, onde ele fez um curso de cirurgia com o celebre Professor Démarais. Em 1940 meu pai foi convidado pela Federação das Industrias de São Paulo, para uma viagem ao Japão onde foi acompanhado de minha mãe,  viajando depois para a Argentina. Possuía uma biblioteca de 11 mil volumes e era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de São Paulo e brasileiro, foi Vereador e Prefeito de Taubaté. Pertencia à Associação Brasileira de Imprensa.

Lá pelos anos 39,  inaugurou a Casa de Taubaté com prédio próprio no centro da cidade.

Tratava-se de um shopping. Podia-se encontrar quase de tudo. Na parte de baixo tinha uma ótima mercearia oferecendo produtos estrangeiros. No outro lado a loja de tecidos mais conhecida da cidade. Possuía elevador, onde nos andares de cima haviam lojas de brinquedos importados, joalheria, cama e mesa, atelier de costura da  grande profissional que era Noemia Nader, alfaiataria, e um muito agradável Salão de chá, freqüentado pelas senhoras de Taubaté.

Como se pode ver, sua vida era bem movimentada. A CTI foi vendida e ele passou a  levar uma vida mais tranqüila. Como meu avô, meu pai adorava passar grandes temporadas em Ubatuba. À tarde sentava-se numa espreguiçadeira no calçadão do Sobrado do Porto e comprava tudo o que passasse para vender,  peixes, ostras, camarões, cachos de coco verde, banana e tudo mais que aparecesse. Mandava que subissem pela escada caracol da cozinha e entregassem ao cozinheiro Teodóro que com quase 2 metros  de altura e mais meio metro de seu exagerado chapéu de cozinheiro, preparava as refeições para a família e muitos convidados que ajudavam a alegrar as temporadas que ficaram gravadas na nossa memória.

Lembro-me em criança, de irmos de fórdinho com meu pai até uma lagoa que sobrou da enchente do rio Paraíba, onde lhe contaram que foi visto um jacaré. A animação foi instantânea. Pegou sua espingarda e fomos todos caçar jacaré. E não é que ele entrou numa canoa e em pé lá no meio da lagoa deu um tiro e veio com um enorme jacaré que voltou fora do carro desde o paralama da frente até a porta de trás e papai exibindo o fabuloso troféu. Também era grande atirador. Em Paris íamos aos parques de diversão e ele atirava destruindo tudo o que tinha como alvo e nós as crianças voltávamos para o hotel cheios de brinquedos ganhos como prêmios. Quando fazíamos piqueniques ele atirava de boa distância dentro da boca de uma garrafa, e vi-o atirar de lancha em movimento em marrecas que voavam em sentido contrário. Uma vez fui caçar com ele e eu só vi quando ele atirou, e correndo para o meio do mato voltou com um enorme jacu. Assim era meu pai. As vezes estourava, dava gritos e dizia palavrões inventados por ele tão engraçados que todo mundo dava gargalhadas inclusive ele. Adorava sua fazenda Todas as tardes ao sair da fábrica, vínhamos para a fazenda Cataguá. Visitávamos os pomares repletos de todas as qualidades de frutas e voltávamos com o carro cheio de cestas cheias para presentear os amigos.

Mas o seu maior prazer era sua biblioteca com cerca de 11000 volumes, onde ás 5 horas da manhã, já estavam ele e Emílio Amadei, escrevendo com sua rapidez conhecida, para acompanhar o pensamento rápido, com que meu pai ditava os livros históricos.  Diziam que ele precisava ter duas bocas para acompanhar o seu pensamento. Como já disse a sua inteligência e memória eram notáveis. Fazia conferências, discursos, com facilidade de falar e agradáveis de ouvir. Publicou 23 volumes sobre a história de Taubaté, do Vale do Paraíba e litoral Paulista. Meu pai era um homem que jamais comentava sobre a vida de qualquer pessoa, não permitindo que ninguém em casa fizesse o mesmo. Também jamais me castigou nem mesmo me chamou a atenção sobre qualquer coisa. Se houvesse o que dizer deixava para minha mãe. Passei 20 anos fora de Taubaté visitando-os freqüentemente e sinto não ter aproveitado sua memória para me contar tudo que lembrasse da família pois assim eu poderia ter uma base maior para escrever. Tenho grande sentimento de não ter feito pesquisas enquanto  meu pai  estava vivo pois a ajuda que ele poderia ter me dado, seria de grande valía. Ele guardou todos os documentos que me permitiram chegar até aqui e eu agradeço de coração por essa chance. A intenção dele era escrever a biografia de meu avô Felix Guisard, mas demorou e a doença o levou em três dias. Teve paralisia ascendente doença rara de que faleceu Getulinho, filho mais jovem de Getulio Vargas. Antes de morrer, no Hospital, pediu que viesse um Padre seu amigo, confessou, comungou e rezou em latim junto com o Padre a oração dos agonizantes. Faleceu em 29 de Agosto de 1964. Inútil dizer quanto senti sua morte.

Minha mãe, Maria Eulália Monteiro Guisard continuou a morar no imenso casarão da avenida Tiradentes, 29, junto com meu irmão Félizinho , até que construiu uma  casa menor na rua John Kennedy 50. Viveu até os 96 anos  lúcida até os 93. Eu vim morar em Taubaté para ficarmos mais perto dela. Visitava-a diariamente. Nunca vi minha mãe sem um bordado nas mãos. Mesmo quando vinha passar o dia em minha casa no Cataguá trazia seu trabalho em “petit-points” sentávamos no terraço e ficávamos horas conversando. Ao sairmos do terraço, eu gostava de ver os passarinhos pegando os pedacinhos de lã que sobravam e recobrirem seus ninhos que ficavam alegremente coloridos. Ela estudou no Colégio Bom Conselho famoso na época pela educação religiosa ministrada  por Irmãs de São José, de origem francesa. Lia em francês escolhendo bons autores. Todos em casa tocavam algum instrumento musical. Minha Mãe tocava violino, bandolim e piano. Meu Pai tocava flauta. Minha irmã Leticia tocava piano eu aos 10 anos aprendi com meu tio Alberto a tocar cavaquinho depois aprendi piano, acordeon, violão e orgão, meu irmão José Luis toca orgão e Felizinho conhece profundamente a história da musica. Meu tio Evandalo foi um grande pianista. Antes do aparecimento da televisão  nos reuníamos na sala de musica do nosso casarão e tocávamos juntos. Em 1971 faleceu em Ubatuba   minha irmã Leticia. Tivemos um telefonema avisando que ela tinha tido um ataque cardíaco. Leticia foi casada com Jayme Barbosa Lima e tiveram 4 filhos: Jeannete, as gêmeas Noemia e Maria Eulalia e Jayme Filho. Eu sou  a segunda filha, Casei-me com Arthur Audrá e tivemos 2 filhos: Alberto e Marcelo. Felix Guisard Netto foi o terceiro filho permanecendo solteiro. José Luis Jacques, casou-se com Eunyce Tavares e tiveram 2 filhos Denise Maria e Félix Guisard que foi o quinto a usar o nome de família. Mais adiante conheceremos os pertencentes á sexta geração da  família Guisard.e oitava da família Mallet-Caillaud.

Minha Mãe foi uma pessoa de bom gênio, muito caridosa, sempre pronta para ajudar em qualquer situação, mesmo que para isso precisasse fazer um grande sacrifício. Enquanto morei fora de Taubaté, tudo que eu precisasse era para ela que eu pedia, sendo atendida com a maior presteza dirigindo seu carro até os oitenta anos, só parando por ter operado um dos pés. Enquanto morei fora de Taubaté, convidava-a para temporadas no Rio de Janeiro, São Paulo ou na praia das Cigarras em São Sebastião. Sua presença era leve a agradável. Viveu até os 96 anos, sendo que lúcida ate os 92, quando caindo bateu a cabeça e ficou sofrendo de isquemia transitória. Desde então foi perdendo a noção de tudo, vivendo mais quatro anos sem reconhecer as pessoas. Apenas quando eu chegava para a minha visita diária ela me recebia com a exclamação de “Minha filha abençoada!”. Com o tempo foi piorando e então me chamava de Mamãe. Dei-lhe todo o conforto e carinho que merecia .Foi uma paciente calma e boa. Nos últimos tempos de sua vida ela se tornou mesmo minha filha. Que Deus a abençoe minha Mãe. Não posso deixar de citar a paciência que Arthur teve comigo, ficando todas as tardes sozinho em casa, enquanto durante quatro anos eu visitava diariamente minha Mãe.

ALBERTO GUISARD

Nasceu a 6 de Janeiro de 1891, em Taubaté. Faleceu em  20 de Janeiro de 1969.

Estudou no Colégio dos Padres Jesuitas da Cidade de Itú. Formou-se em ciências e letras começando seu trabalho na CTI em julho de 1910 no posto de subgerente. Em 1925 passou a diretor comercial. Fundou em 1939, com Vitor Barbosa Guisard a “Casa Bancária Alberto Guisard Ltda” que se tornou o Banco do Vale do Paraíba, atual Banco Econômico.

Foi uma pessoa extremamente caridosa.

Casou-se com Mercedes Mattos no dia 22 de Março de 1914. Era filha do Cel José Benedito Marcondes de Mattos e de Francisca de Paula Marcondes de Mattos.

Nascida a 10 de Maio de 1891.

Tiveram 3 filhos: Daisy Guisard  nascida em Taubaté a 12 de Março de 1918.

Casou-se com Carlos Herculano Inglês de Sousa a
8 de Dezembro de 1936.

Tiveram 3 filhos: Carlos Alberto, Luiz Roberto e Gilda.

Alberto Mattos Guisard casado com Miriam Gonçalves.

Paulo Mattos Guisard casado com Dalila Querido Guisard.

Alberto Guisard foi  Diretor-Gerente da Compania Taubaté Industrial.

Fundou a Radio Difusora de Taubaté ZYA8, inaugurada a 19 de Janeiro de 1941.

Era proprietário do antigo Convento de Freiras Trapistinas de Tremembé.

Fundou a Casa Bancária Alberto Guisard, mais tarde Banco do Vale do Paraiba, hoje Bradesco.

Construiu e instalou todas a dependências inclusive o Centro Cirurgico.do Hospital de Tremembé.

Faleceu em 1969.

RAUL GUISARD

Nascido em Taubaté a 25 de Julho de 1891 e falecido em 1987.

Formou-se em Direito em São Paulo.

Foi Presidente da Companhia Predial de Taubaté e Companhia de Cinemas do Vale do Paraíba.

Foi diretor da Companhia Taubaté Industrial.

Casou-se com Celia Carvalho de Brito.

Tiveram uma filha Nancy. Casada com Carlos Khoeler

OCTAVIO GUISARD

Nascido em Taubaté, a 8 de Agosto 1899 e falecido em1938.

Estudou Engenharia em São Paulo.

Diretor da Compania Taubaté Industrial.

Casou-se com Acyr Barros.

Tiveram duas filhas: Cleide e Gisela.

Era piloto de aviação tendo construído o primeiro campo de pouso de Taubaté.

Foi um dos fundadores  do Correio Aéreo do Brasil.

Criou a Escola de Aviação de Taubaté funcionando no Campo Tavico, tendo como professor Astério Braga. Faleceu de ataque cardíaco aos 38 anos.

OLGA GUISARD

Nasceu em Taubaté a 20 de Junho de 1895 e faleceu em 1952.

Estudou no Colégio Bom Conselho e formou-se em Ciências e Letras em São Paulo

Casou-se com Francisco de Mattos.

Tiveram dois filhos, falecidos ao nascer.

Faleceu aos 43 anos de diabetes.

HILDA GUISARD

Nasceu em Taubaté a 6 de Junho de 1901

Estudou no Colégio Bom Conselho e formou-se em Ciências e Letras em São Paulo.

Casou-se com seu primo Carlos Guisard Aguiar.

Escritora deixou entre outros  livros , “Bantu”, sobre os índios de Ubatuba e Sununga – A pedra que chora.

Foi a primeira a se interessar pela árvore genealógica da família Guisard, tendo feito pesquisas no exterior.

Tiveram dois filhos: Norma falecida aos 8 anos e Carlos.

Hilda  faleceu e foi sepultada no Rio de Janeiro.

VIOLETA GUISARD

Nascida em Taubaté a 4 de Setembro de1893.

Estudou no Colégio Bom Conselho e formou-se em Ciências e Letras em São Paulo.

Casou-se com o advogado Gontran Reis.

Tiveram três filhos sendo dois gêmeos todos falecidos ao nascer.

Atendia ás necessidades do Orfanato Santa Verônica.

Recebia e hospedava em sua casa todas as pessoas amigas e familiares que precisassem de assistência médica.

Faleceu em São Paulo onde foi sepultada.

Certidão de Nascimento de Felix Louis Guisard

Certidão de Batismo de Felix Guisard

Certidão do segundo casamento de Amelie (mãe de Felix Guisard)

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