História da CTI por Oswaldo Barbosa Guisard

História da CTI por Oswaldo Barbosa Guisard

Uma empresa como a Companhia Taubaté Industrial, após 9 lustros de atividade, já tem uma história interessante. É por isso que iniciamos neste número, (e o faremos em edições subsequentes), um relato circunstanciado da História da C. T. I.
Vamos começar longe. Na Raiz da Serra de Petropolis.” Lá, embrião ainda, o grande sonho de Felix Guisard tomou forma, corporificou-se e veio deitar raízes em Taubate. Antes, porém, várias outras cidades foram objeto de estudos até que se determinasse definitivamente a montagem da fábrica. Relembraremos também os primeiros
colaboradores dessa obra. Muitos já desapareceram do cenário da vida. Outros ainda em plena atividade. Uma história cheia de desprendimento, de renúncia, de amor ao trabalho até ao apogeu…

Para facilidade de nossos leitores, publicaremos de início uma relação de capítulos:

Capítulo I
A fábrica da raiz da serra de Petrópolis. A fábrica de tecidos grossos no bairro do Chapéu, em São Luiz do Parahytinga. A baldeação em Cachoeira. A bitola larga. O porto de Ubatuba. A subida da serra. Machinacio. A tropa branca descendo a serra. Roupas para escravos.

Capítulo II
Questão do clima. Condições geográficas. Terrenos. Águas. Matéria prima. Mão de obra.

Capítulo III
Uma fabrica em Taubaté. Retrospecto da indústria desde os tempos da colônia. C.T.I. Componentes. Realização.

Capítulo IV
Primeira fábrica. Meias e camisas de meias. Incêndio. Transformação. Toalhas felpudas. Brins e riscados.

Capítulo V
Segunda fábrica. Morins. Observações.

Capítulo VI
Terceira fábrica. Cretones. Observações.

Capítulo VII
Usina Félix Guisard. Município de Redempção.

Capítulo VIII
Leis Sociais. Ubatuba.

Capítulo IX
Um homem que fez tudo que quis na vida.

Capítulo X
Lema da “C.T.I.”. Observancia rigorosa das Leis, dentro do mais completo conceito cristão do trabalho

A baixada fluminense, na parte que fica entre Rio e Petrópolis, tinha tido seus momentos de grandeza, e as fazendas dessa zona, estavam aparelhadas de boas construções e numerosas benfeitorias, tais como engenhos de cana, xxxx, e outras pequenas indústrias complementares da lavoura.
Em tudo havia uma febre de trabalho e de progresso. A estrada União e Indústria que ia da Raiz da Serra a Petrópolis era transitada constantemente por caravanas luzidias levando D. Pedro II e os de seu séquito, bem como outros moradores da Corte, que buscavam Petrópolis, pela amenidade de seu clima, o inverso do Rio de Janeiro, abafado, insuportável.
A primeira estrada de ferro que se construiu no Brasil, ligava o litoral de Mauá à raiz da Serra, onde fazia ponto terminal. E distante da raiz da Serra poucos quilômetros, erguia-se junto aos contrafortes da Serra da Estrela, a Fazenda Pau Grande. Como as outras dessa zona, tudo nela respirava atividade e progresso. Mas em 1873 vamos encontrar aquela mesma fazenda, antes tão opulenta, agora abandonada. Por tudo, o sinal evidente da desgraça e os traços marcados da decadência. A malária, num surto epidêmico (do que até hoje se sofrem as consequências) devas tara toda a baixada fluminense. Por tudo era desolação e miséria. Pau Grande contava então apenas uns poucos moradores, que o amor à terra mantinha estóicos, à espera de melhores dias. E esses dias voltariam. E esses dias voltaram…
Mr. John Sherrington, um inglês ativo, e que enxergava longe como todos os ingleses , ao visitar essa fazenda, anteviu a possibilidade de se utilizar a força das águas do “Piabeta”, que corriam dentro da fazenda, com forte differença de nivel, e se lançam nos pântanos da baixada que rodeia a fazenda. Mr. Sherrington convida para sócios os Drs. Felício dos Santos e José Rodrigues Peixoto, e dai a pouco, já sob a razão social de Santos, Peixoto & Cia. adquiriam a Fazenda Pau Grande por 12:000$000, para o nela montarem a “FÁBRICA DE TECIDOS PAU GRANDE”, com 40 teares para riscados grossos, que seriam fabricados com fios importados. Em 1880 montam uma secção de tinturaria e nesse mesmo ano encomendam à América do Norte a fiação.
No dia 9 de Novembro de 1879 chega à Fazenda Pau Grande a Família Guisard. Nas faces de seus componentes, fortes vincos mostravam a tristeza de que se achavam possuídos. É que o chefe, Félix Luiz Guisard, tinha ficado no Rio, num leito da Casa de
Saúde S. Sebastião, prostrado por pertinaz enfermidade. Logo chegados, pagaram a todos os Guisard o seu tributo à malária que ainda infestava aquela zona. Mas a poder de sulfato de quinino, de que cada um era obrigado a tomar 30 centigramos, 2 ou 3 vezes por semana e durante todos os meses do ano, puderam oferecer resistência à moléstia e prosseguir na luta pela vida.
No seu leito de dor, Felix Luiz Guisard tinha a preocupação constante da felicidade dos que lhe eram caros. Aquele corpo afeito ao trabalho, por outro lado, sentia-se mal na imobilidade forçada do leito.
E, o que estaria acontecendo aos seus? Ele não podia se deixar ficar inerte numa cama de hospital, quando os de sua família precisavam de seu auxílio. E ainda recém sarado, fraco, pelos fins de novembro, juntou-se aos seus.
Mas a moléstia prosseguia em sua obra e não resistindo, a 22 de dezembro desse mesmo ano, fecha para sempre seus olhos e entrega sua alma ao Criador. — • —
Do dia para a noite, como só dizer-se em casos que tais, aquele adolescente que fizera seus preparativos no Seminário de Diamantina, que se dedicara mais aos conhecimentos das ciências e das línguas:que tinha por problemas a resolver apenas as declinações dos verbos latinos, os conhecimentos de filosofia e os cálculos da matemática , viu-se a braços com o mais sério dos problemas de sua vida. É que ele se tornara pelas determinações do destino, o chefe da família, grande por si só e ainda acrescida de sua avó, três tias e um tio inutilizado pela cegueira.
Era preciso trabalhar pela subsistência da família. E na Fábrica de Pau Grande principiou com outros membros da família o “struggle for life” Das espulas até os teares, exercitou-se em todas as máquinas com o ordenado de 8800 diários, durante muitos meses. As horas de descanso, ele as aproveitava para praticar, o que lhe valeu ser chamado a ocupar a gerência da fábrica com apenas 18 anos de idade. Como gerente recebia 2$000 por dia de trabalho. Em 1881 na Exposição do Rio Janeiro os padrões de riscos apresentado pelo gerente, dão à Fábrica Pau Grande uma medalha de ouro… Era o momento para solicitar um merecido aumento de ordenado. Foi atendido, passando a receber então, 60$000 por mês, enquanto os mestres de teares, enfarda e outros, tinham ordenados que iam de 120$000 a… 150$000. Dava-se mais valor à força que à inteligência. Compreendeu que devia ficar calado, estudar teoricamente e praticar em todas as secções com mais afinco ainda, para fazer jus mais tarde, a uma razoável remuneração. Adotou por lema: ” PACIÊNCIA, PRUDÊNCIA e PERSEVERANÇA”, trabalhou mais dois anos seguidos com o mesmo ordenado de 60$000.
Em 1888 os proprietários da fábrica decidiram ampliá-la, montando secções de meias e camisas de meia. E o gerente teve o prêmio de seu esforço, tendo sido escolhido para a Europa comprar o maquinário necessário. Felix Guisard aproveitou a oportunidade para resolver também outro problema, este de ordem sentimental, e a 27 de setembro de 88, ligou-se pelos laços do matrimônio a senhorita Jeanne Rosand, de origem francesa, celebrando-se as bodas na Igreja do Carmo, a 6 de Outubro embarcou para a Europa.
A fábrica trabalhava agora aumentada, e sob a razão social de Felício dos Santos, Peixoto & Lobo. Como testemunho da satisfação de que se achavam possuídos pela compra e montagem dos novos maquinismos, resolveram melhorar o ordenado do gerente que que passou a ganhar 500$000 mensais que com sucessivos aumentos atingiu 800$000. Prosperando os negócios da firma, decidiram montar outra fábrica e transformar a firma em Sociedade Anonima , resultando daí, com o concurso do Dr. Frontin tiv e de Manoel Vicente Lisboa e outros, a importante Companhia América Fabril. Felix Guisard foi escolhido para avaliador dos bens da firma, para a formação da nova sociedade. Convidado para montar mais uma fábrica para a Companhia, declinou do convite. Seu estado de saúde já não permitia a sua permanência na Baixada. O calor intolerável…
Na verdade, Felix Guisard não quis ficar eternamente como gerente da Companhia. As condições que agora lhe ofereciam eram as mais tentadoras, mas o seu espirito de empreendedor achava por demais limitado o seu campo de ação. Tinha ambição. E deliberou montar em Petrópolis uma fábrica, adquirindo para isso o terreno.
A barca “Príncipe do Grão Pará “, procura vencer o trajeto da Prainha a Mauá. No seu bojo, uma multidão se comprime. De repente dois olhares se cruzam e minutos depois, os dois colegas do Seminário de Diamantina conversam animados e se inquirem mutuamente.
Eram eles o Dr. Rodrigo Nazareth de Souza Reis e Félix Guisard. No decorrer da palestra este conta a aquele que pretende montar uma fábrica em Petrópolis. O Dr. Rodrigo Nazareth pede então a Félix Guizard que não tome nenhuma decisão definitiva.
Ele se achava agora à frente do Banco Popular de Taubaté e lá, dizia, havia dinheiro em abundância. Os depósitos do Banco atingiam dez vezes o Capital do mesmo, e não havia aplicação para ele. de E o convidou a que visitá-se Taubaté e se certificar-se das vantagens que a cidade oferecia, entre elas a de ficar situada entre os dois maiores centro consumidores do Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro.
Em Fevereiro de 1891. Félix Guisard veio à Taubaté e em um rápido correr de olhos aquilatou das suas vantagens, situada em um planalto, com lençol de água profundo, solo poroso, clima salubérrimo, população ordeira e demonstrando atividade, tendo alem disso, as vantagens do exemplo sempre proveitoso da colônia italiana que, a braçadas largas, levantava o progresso da terra. Estava decidida a instalação da fábrica de Taubaté.

A zona Norte apresentava um aspecto bastante agradável. A agricultura e a indústria tinham tomado bastante incremento, e havia interesse na aplicação de capitais. O Gazometro funcionava a plena carga fornecendo gás de iluminação à cidade e fabricante de óleos lubrificantes, parafinas, velas, etc. A Cia. Lidgerwood mantinha aqui uma oficina para montagem e conserto de máquinas de beneficiamento de café, o que por si só atesta a importância do Norte do Estado como zona cafeeira naquele tempo. Chefiava essa “filial” da CASA LIDGERWOOD um inglês de nome Tindal, que se tornou grande amigo de Taubaté, em cuja memória se deu seu nome ao trecho de avenida que liga o Parque Dr. Barbosa de Oliveira (Largo da Estação) ao Largo do Convento. Muitas outras indústrias se tinham estabelecido na zona.
Em São Luís do Paraitinga vamos encontrar, já montada, uma fábrica de tecidos grossos, brancos, especialmente destinados à roupa de escravos: um tecido pesado, com cerca de 500 gramas por metro. Instalada no Bairro do Chapéu, naquela cidade, com maquinário americano, era movido por uma roda d’água. Ainda aqui.

Vamos encontrar o espírito atilado do inglês, na pessoa de Mr. Sherrington, o mesmo que fundou a Fábrica Pau Grande, e que também influi na montagem dessa fábrica. Não teve, entretanto, meios de prosseguir nos seus trabalhos, e por volta de 1891 já a fábrica de S. Luiz do Paraitinga tinha deixado de funcionar. Foram seus proprietários os membros da
família Castro.

Encontramos um desenho que nos dá mais ou menos uma ideia do que era a fábrica.


Realmente merecida fora a escolha. Taubaté, a maior e mais importante cidade do chamado NORTE PAULISTA, situada na parte quase central da referida zona, apresentava características que nenhuma outra apresentava. Faltavam informações mais detalhadas quanto a outros aspectos tais como a demografia, etc. Uma tarde, em passeio pela rua das
Palmeiras, encontrou Félix Guisard, o escrivão do Registro Civil, um sr. Policarpo, que completou com as informações preciosas sobre o assunto, o inquérito a que se que procedia.
Já naquela época o fator “tempo” merecia especial atenção e o provérbio inglês era seguido à risca. Assim, em poucos dias, foram procurados os interessados na fundação da Companhia aberta a lista de subscritores do capital, dada as providências preliminares e, “as quatro dias do mês de maio de mil oitocentos e noventa e um, reuniram-se no salão do Banco Popular de Taubaté, os cidadãos abaixo assinados, subscritores de ações para a constituição da Companhia Taubaté Industrial, a uma hora da tarde e o Dr. Rodrigo Nazareth de Souza Reis, na qualidade de um dos incorporadores da dita sociedade, declarou que estando preenchidas as formalidades precisas para constituir-se a Assembleia Geral, que tem que resolver sobre a organização da Companhia, convidava para presidir aos seus trabalhos o cidadão José Antônio Carneiro de Souza…”

Depois dos trabalhos naturais da assembleia, e lidos os documentos necessários à legalização da Companhia que se iniciava com um capital de 500:000$000, foram lidos, discutidos e aprovados os Estatutos e proclamada a primeira Diretoria que ficou assim constituída: Dr. Rodrigo Nazareth de Souza Reis, Diretor Presidente; Valdemar Bertelsen, Diretor Comercial e Félix Guisard, Diretor Técnico. Para o Conselho Fiscal foram aclamados: Carneiro de Souza & Companhia; João Affonso Vieira e Antonio Marcondes de Moura e para suplentes os Srs.: Dr. José Francisco Monteiro, Dr. Fernando de Mattos e Victoriano Varella. Secretariaram esta Assembleia os Srs.: Dr. Fernando de Mattos e José
Francisco Monteiro. Para os que se interessam pela história da Companhia Taubaté Industrial será interessante conhecer a lista dos subscritores do primeiro Companhia. Eram eles: Arthur Ferreira Torres, Banco Popular de Taubaté, Félix Guisard, Valdemar Bertelsen, Dr. Rodrigo Nazareth de Souza Reis, José Antonio Carneiro de Sousa, Dr. Joaquim Lopes Chaves, Companhia Norte Paulista, Antônio Marcondes de Moura, Capitão João Affonso Vieira, Victoriano Eugênio Marcondes Varella, Dr. Fernando de Mattos, Dr. José Francisco Monteiro, Companhia Edificadora Progresso, Victor Guisard, D. Jane Guisard, João Baptista Guisar, José Benedicto Marcondes de Mattos, Antônio Affonso Moreira, Pedro Moura Alcantara, D.Maria Nazareth Guisard, Theophilo Guisard, Eugenio Guisard e D. Maria Caillaud.

A primeira ideia foi montar uma fábrica de meias e camisas de meia, que deveria trabalhar com fios importados. Feitos os primeiros estudos, prontas as plantas do edifício, voltou Félix Guisard para tratar da liquidação de seus negócios e mudança de sua família, tendo aportado a Taubaté, novamente, a 9 de novembro de 1891. Neste entretempo, os alicerces da fábrica iam sendo construídos, tendo sido encarregado deste serviço o engenheiro Dr. Fernando de Mattos.

Os primeiros estudos para a construção do edifício destinado à fábrica tinham sido feitos com antecedência, de modo que o Dr. Fernando de Mattos já tinha recebido as plantas em perfeita ordem, para poder dar início aos alicerces. A 5 de maio, portanto logo no dia seguinte ao da fundação, se reuniram os diretores para resolver assuntos referentes à
construção e examinarem o modo mais prático de dar andamento ao serviço. O Diretor Presidente, Dr. Rodrigo Nazareth de Souza Reis, sustentava e defendia como parecendo melhor a estrutura das paredes externas de tijolo e não de ferro, como a princípio estava projetado. Com esta solução concordou prontamente o Diretor Gerente.

Outrossim ficou resolvido que seria feito imediatamente o pedido dos maquinismos somente para a tecelagem e acabamento, motor e oficina de reparações, devendo ficar para mais tarde o pedido das máquinas de fiar, tingir e branquear.

No Rio de Janeiro, onde se achavam, reuniram-se novamente a 6 de julho de 1981 os diretores, agora para tratar do material que deveria ser empregado no telhado. Esta reunião teve lugar em um dos salões de Oscar Philippi & Cia, a Rua Theophilo Ottoni, 17, firma inglesa de grande reputação e que se encarregava do pedido de materiais para a Inglaterra. Depois de muito discutir sobre assunto, ficou resolvido que o madeiramento seria de pinho de riga Ginho de Riga) e coberto com telha de ferro galvanizado. O caixilho bem como as calhas foram encomendados em ferro fundido. Motivou a encomenda dos caixilhos nessas condições a impossibilidade de xxxxx oficiais para a fabricação dos caixilhos em madeira, em Taubaté. Todo o material, xxxx que ser importado da Inglaterra, e assim se fez o pedido com urgência.

Em começo de 1892 começaram a chegar no Rio de Janeiro os materiais encomendados. Reservado à Diretoria estava o desprazer de ver chegarem em péssimas condições de acondicionamento o material destinado à fábrica. O Diretor Comercial tendo examinado superficialmente no trapiche os caixotes, julgou que muito pouca coisa se poderia aproveitar, especialmente quanto as calhas que pareciam quebradas de tal maneira que não valiam o frete até Taubaté, O Presidente e o Diretor Técnico chamados pelo seu colega, se dirigiram ao Rio de Janeiro, onde foram examinar o
material. Feito o exame, aliás incompleto por não o permitirem as condições em que estava o trapiche, foram os volumes encontrados com bastante avaria, porém susceptíveis de conserto, conforme declarou o Diretor Técnico. E assim resolveu-se o despacho dos materiais para Taubaté.

Como se vê, naquele tempo o ferro era empregado em grande escala e substituia com vantagem a madeira, dado o preço baixo em que ficava e as dificuldades de mão de obra para a confecção das peças aqui.
Vamos abrir um pequeno parênteses na nossa modesta narrativa para falarmos um pouco de um dos mais eficientes auxiliares de Félix Guisard na construção, ou melhor, na realização dessa colmeia de trabalho que honra a indústria do Brasil. Trata-se de Theophilo Guisard. Desde o primeiro momento Theophilo Guisard se integrou na vida da Companhia Taubaté Industrial para não se afastar, senão por pouco tempo, por motivos de saúde. Auxiliar competente e de uma dedicação sem par, vivia com a fábrica, e para a fábrica, e parece mesmo que a marcha do puchavantes e das engrenagens se regulavam pelo ritmo de seu próprio coração. Nada o fazia afastar-se.

Mesmo aos domingos, logo após a sua visita ao mercado, vínhamos encontrá-lo sentado à porta da fábrica, onde larga roda de operário o ouvi embevecida gozando as pilhérias de que o seu espírito sempre folgazão era manancial inesgotável. Dizer- se que um operário da CTI era seu amigo seria pleonasmo, porque para Theophilo Guisard, essas palavras eram sinônimas. Por mais de 40 anos deu ele o máximo de seu esforço em prol dos serviços da C. T. I. E, ao fim, quando lhe faltaram as forças , e ele com o olhos em lágrimas foi obrigado a se afastar dos serviços da C.T.I., uma aposentadoria honrosa, e merecida como as que mais o sejam, lhe foi proporcionada.

Theophilo Guisard, ainda afina seu coração de ouro pelo ritmo da C.T.I. mesmo de longe ele acompanha a marcha dos nossos trabalhos. Por tudo se interessa como se ainda estivesse em plena atividade. Fechamos aqui o nosso parênteses.

Pronto o edifício principal começaram a chegar as máquinas circulares para a fabricação de meias e camisas de meias, motor e caldeira a vapor.
Deram-se início então aos trabalhos de montagem. Era preciso que tudo ficasse em condições de trabalhar com a maior rapidez possível.
O dispêndio de dinheiro já tinha sido grande. Os cofres da fábrica já estavam exaustos e necessitavam de reforço.
E assim o trabalho prolongava-se até altas horas da noite. Trabalho difícil, pois a não de ser uns poucos auxiliares, entre eles José Aguiar, os demais, arranjados aqui, jamais tinham visto qualquer mecanismo semelhante. Era preciso improvisar operários. Tudo era difícil. A falta de recursos da fábrica em matéria de mecânica era bastante sensível!
Um pequeno parafuso que se quebrasse vinha dar em resultado grande atraso na montagem de uma máquina.
E quantas e quantas vezes,ficava-se a forjar uma peça até o amanhecer para que no dia seguinte as turmas de montagem não ficassem paradas. Peças quebradas na viagem eram aqui reformadas para entrar em serviço, pois não se admitia sequer a possibilidade de mandar buscá-las de novo na Europa, tais as dificuldades e a demora que isso acarretava.

Podia entretanto faltar peças. Podia faltar materiais, mas sobrava no espírito dos dirigentes e dos dirigidos, o ânimo, a força de vontade que desloca montanhas e que muda o curso dos rios.
Vamos tentar recapitular aqui alguns dos principais auxiliares de Felix Guisard, nos trabalhos iniciais da fábrica.
Além de seus irmãos, contava ele ainda com a colaboração de José Aguiar, encarregado da montagem das máquinas, José Baptista de Siqueira trabalhara desde os alicerces da fábrica, José Miguel, Vicente Righetti e tantos outros.
Naturalmente, na poeira dos tempos, alguns nomes terão sido esquecidos, e gostaríamos que os eventuais leitores desta secção viessem em nosso auxílio para que evitemos uma injustiça. E’ bem verdade ter lade que a história da Companhia say ovo Taubaté Industrial não se escreverá em dois ou três números de jornal, e por isso mesmo, sempre haverá tempo de saldar-se qualquer dívida, desfazer qualquer injustiça. Vamos porém destacar um
vulto de mulher.
Leonnie Caillaud. Era uma tia de Felix Guisard. Para cá viera com a família. E tinha na fábrica uma função especial. Era a única guarda da fábrica. Morando em uma casinha próxima ao portão de entrada, dava o máximo de seu esforço para o completo êxito de sua missão. A horas tardias da noite, ela saia para dar sua volta a fim de verificar se ia em ordem, trazendo nas mãos um bastão e uma lanterna, que davam mais imponência à sua autoridade de guarda.
Durante o dia, “Sª Leoni”, como era conhecida entre o pessoal, aproveitava as horas vagas para se empregar no mister de costurar meias e camisas de meia. Durante alguns anos trabalhou Sª Leoni na Companhia Taubaté Industrial. A sua idade, porém, não permitia um desperdício de energias tão grande e ela teve de ser afastada, para trabalhar depois, em casa, somente na costura de camisas. Uma grande alma. Uma eficiente colaboradora das primeiras horas…
Todos estes esforços conjugados, toda essa dedicação inexcedível teve em mira atingir uma finalidade heroica: produzir, produzir sempre. E sua aqui está o resultado dessa faina de titãs: O morim “Ave Maria”, que se tornou, xxxx perfeição, uma glória legítima Indústria Nacional.

140:000$000 destinados à compra da fiação que tanta falta fazia.
E o empréstimo foi realizado por volta de 1895, tendo xxxx o mesmo resolvido em assembléia geral dos accionistas que se realizou em 8 de novembro de 1894 e que autorizou a diretoria a proceder aos trabalho necessários à realização e bem assim hipotecar ao referido Banco os imóveis pertencentes à Companhia, em garantia do empréstimo.

Em Dezembro desse ano, aqui chegou um engenheiro do Banco da República que tinha por missão verificar e avaliar os bens pertencentes à Companhia e aquilatar as vantagens do negócio na parte referente ao Banco.
Já nessa época e estavam prontas as salas, motor e todas as transmissões para a fiação, faltando apenas as máquinas que tão logo chegassem poderiam entrar em trabalho em questão de dia. A secção de tecelagem e o acabamento de camisas de meia que tinha iniciado seus serviços em janeiro de 1893 continuava produzindo, tendo se a sua produção facil mercado, mas as dificuldades do câmbio impediam a importação do fio de e, desta forma, uma produção de calculada em 350 dúzias de camisas diárias estavam reduzidas a 40. Além disso o preço do quilo de fio fiado aqui, acusava um decréscimo de 1$200 em quilo em relação ao preço do fio importado, tomando por base os preços da época. Considerando que, havendo abundância de fio o consumo poderia ser até de 500 quilos diários, é fácil calcular qual o lucro que adviria da montagem da nova secção.

Nos primeiros meses de trabalho também as dificuldades de transporte oriundas da falta de organização na Central do Brasil se fizeram sentir, porém, mais tarde tudo se regularizou. O combustível que também se tornou difícil nos primeiros tempos, tornou-se em pouco uma questão vencida. Quanto ao pessoal das fábricas, estes mereceram logo no primeiro relatório da diretoria os qualificativos: inteligente, laborioso e morigerado.

Chegamos a 1895 mas a vida da empresa neste ano foi bastante destituída de interesse.
Os mesmos motivos, dificuldades de cambio, centenares de mil dúzias de camisas de meia vendidas em leilão no Rio de Janeiro, por empresas que se devoravam às portas da falência, causaram a paralisação completa das vendas, a anulação total da concorrência, e o consequente prejuízo. Diretoria viu-se na contingência de restringir a produção que já era pequena, diminuir o pessoal, deixando na fábrica, em trabalho, o pessoal indispensável à conservação do maquinismo e tendo em vista reter os melhores operários.

O sacrifício foi enorme, mas a C.T.I. atravessou a crise sem parar a fábrica. No segundo semestre deste ano os diretores e o conselho fiscal resolveram dispensar daí em diante, em benefício da companhia, o direito aos vencimentos. A mais severa era e continuava a ser a base da administração, porém a receita mensal sempre era inferior à despesa, e o déficit se apresentava cada vez mais claramente.

Em novembro de 2897 a diretoria firmou com a firma Joseph Levy Fréres & Cia., da praça do Rio de Janeiro, um contrato para venda do produto da fábrica e, logo no mês seguinte, afluíram encomendas e a produção aumentou para 100 dúzias diárias. Porém, a 20 de março de 1898, declarou-se um violento incêndio que em poucas horas destruiu toda secção de tecelagem e confecção de camisas de meia, extinguindo, assim, a fonte de receita da Companhia.

Rápido como uma bala, corre o garoto em demanda à fábrica a avisar de sua descoberta. Bate a porta. Nada. Ninguém lhe responde. A fábrica estava deserta. Como, pois, resolver a questão?
Um pensamento rápido passou-lhe o cérebro. Ah! O sino! E, pulando o muro da rua, dirige-se para o sino grande que só deveria soar nas horas de angústia, e badala-o com ardor. Aqueles sons atroadores chamam a atenção dos que se achavam por perto.

Operários, mestres, transeuntes acorrem ao chamado. Arrombam-se por tas. Homens de boa vontade invadem o edificio. As portas abertas deixam entrar uma quantidade grande de ar que aviva o fogo. E agora labaredas serpenteantes parecem querer tudo devorar. Era o incêndio! Os meios precários debelá-lo ao outros tantos degrãos por onde sobe e avulta de intensidade o fogaréu destruidor. Mas todos se lançam à luta empregando-se com afinco. Avisados, imediatamente voltam à fábrica, Felix Guisard e seus irmãos Theophilo, Eugenio e Baptista. Acorrem também, Antonio Lautherbach, Luiz Santos, Carmello Giunta, Miguel Branco, José Hylario, Horacio, e tantos outros, operários, amigos, desconhecidos, todos irmanados no mesmo interesse.

O combustível usado naquela época era variado, contando-se também, entre outros, a palha de café. Queimada, as fagulhas ainda ardentes haviam entrado pelo telhado vindo cair sobre grande quantidade de camisas de meia que se achavam em acabamento na seção competente.

Despercebido, lá ficara o fogo a construir sua obra, que nada teria sido, se os azares da sorte não tivessem feito com que as fagulhas caíssem em um sábado, tendo assim tempo bastante para agir. O madeiramento de pinho resinoso (de Riga), de fácil combustão, foi logo tomado pelo fogo.

Nada mais havia a fazer naquela seção. Era mister salvar-se o que ainda restava e que se achava em perigo iminente. Era preciso cortar-se o madeiramento, isolando aquela seção das outras. Mas era preciso gente arrojada e material apropriado.

A providência divina que tudo prevê e tudo provê, agia agora. Um bando de homens decididos, armados de machadinhas escalam lépidos as paredes do edifício, e com uma facilidade extraordinária seccionam o madeiramento.

Era os artistas e empregados do Circo de Albano Pereira que acorreram ao badalar angustiado do sino velho.
Estavam salvas as outras seções. Para evitar a propagação do incêndio, foram jogados a um tanque de água os fardos de algodão que se achavam mais sujeitos ao fogo. Providência, transformou-se em dificuldade de monta. É que o algodão, desfeito alguns fardos, se misturava à água e assim quando se enchiam as bombas de incêndio ele obturava completamente o encanamento pondo fora de combate em pouco tempo todas as bombas disponíveis.

A baldes d’água, pois, que de outro meio não havia lançar mão, foi debelado o fogo. E, á tardinha, um espectáculo desolador de destruição. Cinzas, rescaldos, mais nada. Ao lado, no grande tanque, boiando calmamente, muito brancos, os mesmos fardos de algodão que quase impediram o combate ao fogo, momentos antes. E subia aos céus, também, o agradecimento sincero dos responsáveis pela C.T.I., por verem atenuados, mercê de Deus, os efeitos da catástrofe.

Aquele garoto que tanto desejara badalar o sino grande, e que na sua inconsciência de criança o fizera com tanta oportunidade subiria mais tarde aos mais altos picos da administração da Companhia. Era o dr. Felix, Guisard Filho.

Reunida a assembleia geral dos acionistas da companhia para tomarem conhecimento dos fatos posteriores ao incêndio, expos a diretoria a nova ordem de coisas criada pelo sinistro e os acionistas seguiram então o único caminho que havia: deram inteira liberdade de ação ao diretores, confiantes como estavam de que estes tudo fariam para que a Companhia retornasse ao seu ritmo normal de trabalho.

Na ocasião do sinistro, duas companhias de seguro, The Royal e Americana respondiam pelo seguro, com duas apólices de cinquenta e cem contos, respectivamente, Calculados os prejuízos, pro-rata, “The Royal” entrou imediatamente com a sua parte, ou seja, pouco mais de vinte e um contos. Já outro tanto não aconteceu com a Companhia Americana que, não dispondo de numerário para atender ao compromisso, aceitou quatro letras de câmbio, aos prazos de 3,6,9 e 12 meses, as quais ficaram depositadas no BANCO DA REPÚBLICA DO BRASIL, para recebimento. Faltando par entretanto ao compromisso assumido, deixou a Companhia Americana, de satisfazer logo ao primeiro título vencido, constando mesmo que havia desaparecida apesar de haver sido publicado em jornal recente o resumo da ata da referida Companhia, com eleição de nova diretoria, etc.

Com premente necessidade de dinheiro para fazer face de despesas de montagem de nova seção de tecelagem e confecção de camisas conseguiu a diretoria obter do Banco da República do Brasil autorização para empregar nessas despesas o dinheiro recebido do seguro, e aproveitando 2 salas disponíveis no edifício, passou a funcionar dentro em pouco a nova seção, com uma produção diária de 80 dúzias.

Ocupavam-se nessa ocasião nos diversos misteres dentro da fábrica 170 pessoas assim divididas: 24 homens, 80 mulheres e 66 meninos e meninas. Prevenindo-se contra futuros aborrecimentos tratou a diretoria de canalizar água potável para dentro da fábrica em quantidade tal que pudesse servir para outro caso de incêndio, e assim grossas canalizações foram assentadas, e munidas de mangueira de borracha, com esguichos apropriados.

Na assembleia ocorrida em 28 de Julho de 1888, pela primeira vez foi lançado um voto de pesar na ata dos trabalhos. Logo após eleitos os membros do Conselho Fiscal que deveria funcionar no futuro exercício, o presidente da Companhia depois de pronunciar sentidas palavras propôs que ficasse consignado em ata um voto de profundo pesar pelo falecimento do Cel. João Affonso Vieira um dos membros do Conselho Fiscal e dos acionistas que mais concorreram para a fundação da Companhia.

Depois do incêndio, procedidas às reparações mais urgentes, postas em movimento as máquinas, num espaço de tempo que constituiu um recorde, um mês apenas entrou a Companhia a entregar regularmente os avultados pedidos que havia recebido no começo do ano.

Um novo seguro havia sido feito, agora em Companhias de maior respeitabilidade, e num total de 350:000$000 para garantir melhor o acervo da Companhia. A procura dos artigos produzidos aumentava continuamente e o estoque do fim do ano de 1898 escoou-se com rapidez satisfatória. A produção aumentou bastante, de modo que em dezembro deste ano elevou-se a 2.800 dúzias, ou seja, mais de 100 dúzias de camisas por dia útil.

Os lucros do ano excederam de 50.000$000 mas foram absorvidos pelos prejuízos causados pela Companhia Americana pelas quatro letras perdidas, num total de 43:428$567, e o resto pelos juros creditados à conta dos credores.

No mês de agosto havia a diretoria arranjado com Banco da República do Brasil único credor hipotecário, faculdade de amortizar por pequenas prestações mensais o débito por juros acumulados, arranjo este rigorosamente cumprido.

Ao chegar aos últimos de 1.898, pode a diretoria afirmar que o ano terminara bem para os negócios da Companhia, o que fazia prever um futuro próximo auspicioso prometedor de dividendos.

Dependendo de materiais e maquinários importados, sujeita por por isso mesmo aos azares do câmbio, viu-se a diretoria a braços com um novo problema, que modificava, logo no início de 1899, os planos promissores di ano anterior. E, assim, em assembleia realizada a 20 de abril de 1899 apresentou a diretoria aos acionistas presentes uma proposta do seguinte teor: Srs. acionistas: no balanço de 31 de dezembro de 1898 figura no passivo uma verba de Rs: 168:437$674, ou sejam Lbr 16.949-13-8 ao câmbio de 10,11116, representando nosso débito por diversos artigos vindos da Inglaterra para esta Companhia.

Nesta data devido aos juros o nosso débito excede 7.000 libras esterlinas e ao câmbio atual de 6,718 importa em Rs: 245:000$000. A diretoria reconhecendo a impossibilidade de solver tão grande compromisso, cujos juros absorvem boa parte dos lucros da fábrica, procurou entender-se com o credor e dele obteve a faculdade de pagarmos as 7.000 libras com 1.000 ações intergralisadas desta Companhia, do valor nominal de 200 $000 cada uma, com a condição de que a metade, isto é, cem contos de réis provenham da redução do capital realizado pelos acionistas e outra metade, cem contos, de novas ações emitidas para este fim.

O capital realizado pelos acionistas e de 300:000$000, ficará reduzido a 200:000$000 e as ações com 120$000 realizados ficarão reduzidas a 80$000 cada uma. O capital nominal da Companhia que é de 500:000$000 ficará reduzido a 400:000$000 dividido em 2.000 ações de 200$000 cada uma. Os atuais acionistas receberão 2 novas ações em troca de cada grupo de 5 ações das antigas, ou, ao todo: 200.002$000 em mil ações. As demais mil ações serão entregues pelo seu valor nominal ao credor quirografário em solução do débito da Companhia, devendo o dito credor passar recibo declarando receber em ações a importância do respectivo crédito, dando plena e geral quitação. Srs. Acionistas: são tantas e grandes as vantagens desta operação, que a diretoria julga dispensar de encarece-las, salientando apenas que a Companhia vai pagar 245:000$000 que deve e que vencem juros com 200.000$000 em ações que ainda não começaram dar dividendo. Propunha também a diretoria que se modificassem alguns artigos dos estatutos, modificação essa necessária para efetivação daquelas negociações.

Dessas modificações as mais interessantes eram as que relacionavam com a economia da Companhia.
Assim dos 3 diretores suprimiu-se um, o diretor comercial, o cargo de diretor presidente passou a ser exercido sem remuneração, o de diretor técnico teria direitos a 800$000 mensais, quando em gerência das fábricas.

Procedida a eleição da nova diretoria foram escolhidos os Srs.: dr. Rodrigo Nazareth de Souza Reis para presidente, Felix Guisard para diretor técnico. Nessa mesma ocasião procedeu-se a eleição do Conselho Fiscal que ficou constituído dos srs. John M. Tindal, Antonio M. de Moura e Antonio Ribas, e como suplentes os srs. João Gomes da Luz, João B. Alves Mourão e Alberto & Meyenberg.

A custa de sacrifício e renúncia dos acionistas e mercê da larga visão dos seus dirigentes, pode a Companhia Taubaté Industrial vencer mais uma etapa árdua e perigosa.

O ano de 1899 correu próspero para a Companhia Taubaté Industrial que bem merecia esta compensação pelos desgostos e prejuízos sofridos nos anos anteriores.
Aproveitando esta oportunidade, tratou a diretoria de introduzir alguns melhoramentos que se faziam necessários a fim de poderem as fábricas continuarem aumentando e melhorando a sua produção.

O piso da fiação foi todo cimentado: as paredes das seções de Batedores, Cardas, Tecelagem e Confecção de camisas foram rebocadas e pintadas, visando diminuir a poeira que dificultava a conservação das máquinas. Para prevenir incêndios, providenciou-se a separação das diversas seções por meio de portas apropriadas, forradas de ambos os lados com chapas de ferro. Também no maquinário foram introduzidos melhoramentos. Um novo tipo de polias falsas, de grande rendimento e facilidade de trabalho foi adaptado às transmissões.

Havendo concorrido a Companhia no fornecimento de camisas de meia para a Marinha Nacional, e tendo conseguido fornecer regular quantidade trataram os diretores de mandar buscar na Europa uma nova máquina tubular de grande diâmetro e mais oito máquinas de costurar e cortar simultaneamente, que viriam melhorar de muito qualidade dos produtos.

]Tendo havido acúmulo de encomenda nos primeiros meses do ano, foi necessário aumentar-se as horas de trabalho, estendendo este pela noite a dentro, tendo sido então instalado um dínamo para a produção de luz elétrica.

Também um serviço de telefones foi instalado ligando-se um aparelho à casa do gerente que poderia fiscalizar assim mesmo à noite o serviço de vigilância da fábrica. Mesmo os muros que circundam a fábrica foram reparados e reconstruídos, apresentando agora um aspecto agradável.

A parte do prédio que havia sido destruída pelo incêndio, continuava a esperar pelos serviços de reconstrução, mas todo o material necessário já havia sido adquirido, breve estaria de novo pronto um novo pavilhão com cerca de 3.000 metros quadrados de área.
Nesse novo pavilhão, pretendiam os diretores instalar as máquinas necessárias à fabricação de tecidos lisos, riscados etc. Toda a força motriz necessária já se achava pronta para entrar em serviço.

Também um surto algodoeiro se fazia sentir nas vizinhanças e assim é que a Cia. se viu obrigada a adquirir uma máquina de beneficiar algodão por ter já adquirido algumas partidas de algodão em caroço produzido nas localidades vizinhas: Santa Branca, Eugenio de Mello, Paraibuna etc.

Os plantadores bastante animados com a colheita, aumentaram as plantações tudo fazendo prever que poderiam a partir do próximo ano fornecer à fábrica a matéria prima necessária.

O relatório do ano de 1898 terminava com as seguintes palavras: devemos dizer-vos que foi motivo de grande satisfação para esta diretoria poder distribuir o primeiro dividendo à razão de 10$000 por ação tendo levado a fundo de reserva 3:488$311 e outro tanto a fundo de recuperação, ficando ainda em conta de lucros suspensos Rs. 30:676571. Taubaté, 31 de dezembro de 1889.
a ) Dr. Rodrigo Nazareth – Presidente
a ) Felix Guisard – Diretor-Gerente

Os anos de 1900 e 1901 correram satisfatórios para os negócios da Companhia, tanto assim que os dividendos se repetiram nesse ano.
O balanço com a fria eloquência dos algarismos demonstrava a marcha ascendente da produção e dos negócios.

Novas máquinas foram adquiridas, apropriadas principalmente para a fabricação de cadarços, cordões e trancellis de seda e algodão que eram empregados em grande quantidade no arranjo das camisas. Só desses artigos já eram consumidos mensalmente cerca de 30.000 metros.
Esses cadarços, etc, eram importados da Inglaterra, variando seu preço de acordo com o câmbio. Esse inconveniente foi removido com a aquisição das máquinas que custaram à Cia. cerca de 3:500$000.

O acúmulo de encomendas de fio além de diversos pedidos que a Cia. não pode aceitar por não poder aviá-los dada a insuficiência de fiação vieram patentear a inadiável necessidade de ser ela aumentada. A diretoria teve necessidade de encomendar na Europa uma máquina com 342 fusos, quase igual a 114 da totalidade dos fusos em serviço, porém não bastava esta máquina. Seriam necessárias as cardas, passadores, massaroqueiras e mais fusos para dobrar a produção da fiação.

Pedindo aos acionistas que deliberassem sobre esse assunto na assembleia que realizaram a 24 de abril de 1902, xxxxx da assembleia a diretoria xxxx na autorização para fazer as encomendas, quando o diretor gerente achasse oportuno.

Infelizmente no relatório que apresentaram à essa assembleia tiveram os diretores que informar que: “o parecer do Conselho Fiscal trás somente duas assinaturas”… – E’ que havia falecido o Cel. Antonio Ribeiro um dos membros do Conselho Fiscal.

A concorrência não deixava margem à elevação de preços.
Uma dúzia de pares de meias estava sendo vendida aos grandes atacadistas como Soto-Mayor e outros ao preço de $900, sujeito esse preço ainda, a uma bonificação de 5%. Para agravar este estado de coisas, os fretes cobrados pela Central do Brasil sofreram um formidável aumento do que resultava pagar uma dúzia de pares de meias daqui ao Rio de Janeiro cerca de $200, ou seja, cerca de 25% do preço que era vendido.

Janeiro cerca de $200, ou seja, cerca de 25% do preço por que era vendido.
O engenheiro Passos, que depois se tornou famoso pelas grandes reformas que introduziu na Capital da República, chegando um dia a Taubaté a serviço da Central, foi procurado pelo sr. Felix Guisard.

O motivo da visita era justamente aquele. Os fretes caros.
Interessado e diante dos argumentos apresentados pelo representante da Companhia, o qual fizera acompanhar a reclamação de faturas de venda e alguns pares de meias, prometeu o engenheiro Passos regularizar essa situação o que, de fato, pouco tempo depois se deu.

No relatório apresentado à assembleia geral ordinária, reunida em 31 de maio de 1905 este fato foi tratado com minúcias e dele extraímos o seguinte trecho:
“Nos primeiros dias do mês de março deste ano um fato de maior gravidade veio pôr em evidência a nenhuma segurança da indústria e dos capitais nela empregados em nosso país.

A Diretoria da Estrada de Ferro Central do Brasil, por um simples memorandum mandou que a estação de Taubaté mudasse a classificação de meias da 3ª para 2ª classe da Tarifa, do que resultou um aumento de cerca de 50% nos fretes, isto é uma diferença de 6:000$000 mais ou menos por ano, em prejuízo da fábrica que deste modo tem os seus produtos, meias e camisas de meia, arredados da concorrência.

Sem perda de tempo foram dados os passos que o caso requeria mas a Diretoria da Estrada não se dignou dar até hoje uma solução à petição da Companhia. Para evitar maiores prejuízos, a gerência resolveu cessar a fabricação de meias e camisas do meia e dispensar o pessoal até 31 de março, medida esta que não chegou a por em prática.

Nesse mesmo relatório sugeriu a diretoria, ou por outra, pediu aos acionistas que manifestassem o seu pensamento sobre a atuação do deputado dr. José Rebouças de Carvalho, o qual espontaneamente interviu junto à diretoria da Central, para facilitar a solução do caso, conseguindo mesmo que ela mandasse um telegrama autorizando o agente a voltar a classificação para 3ª classe, até segunda ordem.”
Solução provisória, tornou-se efetiva depois com a intervenção do engenheiro Passos conforme dissemos em linhas acima.

O extravio de uma lauda de papel, fez com que passassemos sobre os acontecimentos relativos ao ano de 1903 e 1904, tão interessantes da história da Companhia Taubaté Industrial.
Por isso é que o eventual leitor desta seção, se é que ela teve a felicidade de a alguém agradar, deveria ter estranhado a, como diremos, solução de continuidade, que se operou entre os capítulos IX e X.
Vamos voltar pois aos acontecimentos desses dois anos.

A diretoria quando da autorização concedida pela assembleia realizada a 4 de maio de 1903 adquiriu os maquinários necessários ao aumento da fiação e também assim para a fabricação de brins e panos crus e riscados. As máquinas dos fabricantes mais afamados, foram adquiridas em ótimas condições, sendo logo pagas e tendo custado, a fiação e a tecelagem R 40:384$330 e… 101:527$570 respectivamente.

Para complemento da montagem foi preciso adquirir uma caldeira maior a fim de aumentar a produção de vapor necessário à tinturaria. Assim por volta dos últimos dias de 1904 já se achavam trabalhando quase todos os teares adquiridos.

A produção de riscados teve o sucesso que se esperava e com ela vieram outras. Assim é que a fábrica passou a produzir logo no ano seguinte morins que também tiveram bastante aceitação e logo mais tarde toalhas felpudas para banho. Estes artigos aliados às camisas de meias tinham saida franca. Por seu lado os agentes vendedores, Edward Ashworth & Cia, firma inglesa de sólida reputação, e que já vinham exercendo este mister logo que substituíram a Levy Frere & Cia em 1901, abriam novos horizontes para os negócios da Companhia. Possuindo uma organização de vendas modelar, com uma alta visão dos negócios de tecidos, mantendo filiais de Norte a Sul do país, fácil lhe foi incrementar os negócios encorajando os diretores a ampliar cada vez mais as possibilidades da fábrica.

Por volta de 1905/6 a grande moda eram os morins, que essa firma bem como outras firmas inglesas, de grandes capitais e que já não mais existem, importavam em larga escala. Não passou despercebido a Edward Ashworth & Cia que se poderiam fabricar aqui esses panos, bastando adquirir-se para tal os mecanismos na Inglaterra. A aceitação dos produtos fabricados, a conquista de novos mercados com novos produtos, a ânsia de progressos que sempre se manteve firme em todos os que se dedicaram à Companhia Taubaté Industrial, fez com que se tornasse em realidade a ideia de aumentar ainda mais a fábrica dotando-a também de um alvejamento que a habilitasse a fabricar os morins.

Faltando o capital necessário a este desideratum, comprometeram-se os agentes a conseguir com a firma e seus amigos ingleses e subscritores para um aumento de 400.000$000 nas seguintes bases:

● O capital da Companhia seria elevado a 1.000 contos, recebendo os acionistas uma bonificação de uma ação por grupo de duas que possuíssem e subscrevendo Edward Ashworth & Cia e seus amigos o restante ou sejam, 400:000$000,
● A sede da Companhia continuaria ser em Taubaté,
● Os agentes vendedores teriam assegurada a continuação seu cargo junto aos
negócios a Cia,
● Os diretores seriam em número de 3, sendo um de indicação dos agentes
● A remuneração dos diretores de seria de 3:000$000 anuais e mais uma gratificação
de 5% sobre os dividendos que fossem distribuídos,
● O diretor gerente receberia uma gratificação mensal de 800$000 aumentados para 1
conto enquanto durassem os trabalhos da montagem da nova fábrica,
● Também do Conselho Fiscal, um dos membros seria de indicação da firma.

Logo que a Matriz da firma em Manchester aceitasse as condições oferecidas pela sua filial do Rio de Janeiro, Sr. Felix Guisard deveria partir para a Europa a fim de adquirir os mecanismos necessários. Esta proposta foi enviada à diretoria da Cia, em dezembro de 1908, pelo diretor da firma no Brasil, Sr. George Herbert Craig, o qual tendo obtido solução satisfatória por parte da Cia. partiu para a Inglaterra a fim de apresentar o plano aos seus chefes.

Data dessa época, pois, a operação dos ingleses junto à Companhia Taubaté Industrial. É este sem dúvida, um capítulo interessante da história da Companhia. Dele nos ocuparemos mais cuidadosamente em sucessivos períodos.

Dos anos de 1905 até 1909 não ocorreram fatos que merecessem especial destaque. Os negócios marcharam sempre em escala ascendente até culminar com ideia do aumento da fábrica. Apenas em 1908 uma crise se esboçou nos negócios em geral. A restrição fez com que todos vissem baixar o nivel de suas atividades e consequentemente os lucros, influindo assim sobre os dividendos. Isto, naturalmente, prejudicou o entusiasmo que deveria apresentar a Exposição Industrial realizada na Praia Vermelha. Na Exposição preparatória de São Paulo vimos com grande prazer nossos produtos muito apreciados, e na Grande Exposição Nacional do Rio, os nossos produtos receberam uma medalha de ouro.

Estabelecida as condições para o aumento do capital, conforme minuta do contrato que publicamos em nosso último número, foi convocada uma assembleia geral extraordinária para que os acionistas tomassem conhecimento das negociações e discutissem as reformas que se faziam necessárias para a sua efetivação.

Entrementes discutiam os Srs. Felix Guisard e George Herbert Craig, sobre os tipos de máquinas a serem adquiridas. Notava-se a elevação de vista em que eram mantidas essas discussões, e notadamente a cooperação que cada um procurava prestar para bem solucionar a questão.

Por exemplo, quanto a compra dos teares opinava Mr. Craig que eles deveriam ser de fabricação Northrop, pelas notícias que tinha de sua excelência como máquina, por informações colhidas com amigos da Cia. Manufatora que havia adquirido 300 deles para sua fábrica. Sustentava o sr. Guizard tese contrária, baseada não nas condições da máquina, mas nas dificuldades que apresentavam para sua conservação, por serem teares diferentes dos tipos geralmente em uso, e que necessitavam de técnicos especializados para acompanhar a marcha dos trabalhos.

Em abono dessa asserção chegava a notícia de que a Manufactora havia contratado dois técnicos ingleses para esse serviço. Ora, os técnicos ingleses eram muito bem pagos e em libras esterlinas, o que representava séria responsabilidade dado ainda que esses técnicos vingam contratados por tempo determinado, e com garantias especiais que tornavam o contrato mais oneroso ainda. Além disso Taubaté não contava com pessoal habilitado ainda, que pudesse se adaptar ao novo tear, e substituir oportunamente os técnicos na ocasião em que terminassem os contratos. Assim, depois de discutirem chegaram à conclusão que a melhor máquina seria a do tipo já conhecido e de que deveriam adquirir mais 200.

A assembleia geral extraordinária a que nos referimos acima se reuniu a 21 de fevereiro de 1910, e foi presidida pelo acionista Cel. José Benedicto Marcondes de Mattos e secretariada pelo Sr. Braz Salvador Curtu.

Nessa assembleia foi lida a proposta da diretoria que é a seguinte: Srs. Acionistas: O bom resultado que temos colhido da nossa empresa anima esta diretoria a submeter à vossa apreciação uma proposta de aumento da fábrica, mas agora o aumento projectado é de tal importância que não foi possível cogitar sequer de levá-lo a realidade pelo modo como têm sido realizados os sucessivos aumentos de nossa fábrica a saber: utilizando os lucros excedentes dos dividendos, os fundos de reserva e de reparação.

Para o novo aumento é indispensável novo capital e este por ações. A fábrica, atualmente representa seguramente o dobro do capital realizado, e esta diretoria, espera ver confirmada esta asserção pelos avaliadores peritos que tereis de nomear na forma da lei.

Uma vez confirmado o valor real da fábrica ficará patente o direito dos antigos acionistas a uma bonificação e esta deverá ser em ações. É pensamento da Diretoria elevar o capital a 1.000:000$000 representado por 400:000$000, já realizados, 200:000$000 aos atuais acionistas o 400:000$000 que deverão ser realizados pelos subscritores de novas ações.

Dentro de poucos dias se vencerá a última prestação de juros e amortização do empréstimo em bônus de Rs: 160:000$000 que contraímos no ex-Banco da República, hoje Banco do Brasil, em 1895. Assim, não tendo débitos,a Companhia poderá empregar todo o capital novo no aumento da fábrica. O aumento projectado elevará o número de novos teares, que é actualmente de 112, a 312, com a respectiva fiação e alvejamento.

Teremos que construir um prédio em continuação do existente, que de 3.000 M2 passará a 8000 metros de superfície. Para realizar este programa , torna-se preciso que a Assembleia nomeie avaliadores peritos com a máxima urgência e que ponha em discussão a reform dos estatutos que encontrará em anexo, contendo as modificações precisas.. Do vosso esclarecido juízo é lícito esperar a melhor solução para o caso presente. Taubaté, 21 de fevereiro de 1910. A Diretoria. O Conselho Fiscal da Companhia chamado a opinar, assim se expressou:

“Na forma da lei veio ter à nossas mãos a proposta da Diretoria, para aumento do Capital e reforma dos Estatutos da Companhia Taubaté Industrial, a fim de interpomos parecer o que de hora fazemos. Em vista do exposto e tendo tudo bem ponderado, o Conselho Fiscal abaixo assinado é de opinião que os senhores acionistas devem prestar seu apoio à proposta da Diretoria, e, o Conselho Fiscal assim o recomenda, tendo em vista não somente os interesses pecuniários da Sociedade, como também os grandes e reais benefícios que a realização da proposta trará a população local”.

O Conselho Fiscal reconhecendo que para chegar a Companhia ao grau de prosperidade a que chegou, muito tem contribuído a competência e tenacidade dos seus diretores, e especialmente do seu Diretor Técnico, recomenda aos senhores acionistas que na Ata dos nossos trabalhos seja lançado um voto de louvor aos seus ingentes esforços. Taubaté, 22 de fevereiro de 1910. (a) José Benedicto Marcondes de Mattos, Antonio Marcondes de Moura, Braz Salvador Curtu”.

Terminada a leitura o Sr. Presidente põe a proposta em discussão, e ninguém pedindo a palavra, a submete à votação, sendo unanimemente aprovada. Pede a palavra o acionista Sr. Felix Guisard e expõe a necessidade de serem nomeados três louvados para avaliarem os bens da Companhia e propõe os senhores Alfred Oliver, engenheiro, diretor da fábrica Carioca, do Rio, J.G. Cros, negociante exportador, do Rio e G. Bailey, guarda-livros também do Rio, os quais tendo sido nomeados pelos senhores acionistas aceitaram a incumbência e procederam à avaliação.

O Sr. Presidente suspendeu a sessão para aguardar o laudo. Reaberta a sessão 2 horas depois, fol lido

pelo sr. Secretário o seguinte: LAUDO Nós abaixo assinado, declaramos que tendo aceitado o convite dos snr. acionistas da Companhia Taubaté Industrial para avaliar os bens da mesma Companhia, comparecemos pessoalmente no edifício da fábrica, que visitamos minuciosamente, avaliando tudo quanto para nós representava valor.

Em seguida visitamos as obras de abastecimento de água e logo depois as turfeir as e serviço de turfa para abastecimento de combustível para a Fábrica, tendo encontrado os valores seguintes: 112 teares para diversas aplicações com seus acessórios e respectiva fiação à razão de 5:000$000 por 550:000$000, 80 máquinas para fabricação de artigos de malha, seus acessórios e respectiva fiação a 1:000$000 por 80:000$000, tinturaria, branqueamento e anexos por 55:000$000, terrenos diversos por 20:000$000. Abastecimento de água por 50:000$000, turfeiras e extração de turfa por 35:000$000.

Avaliamos, pois, a fábrica, sem terrenos, suas turfeiras e seu abastecimento de água em 800:000$000, (a) Alfred M. Oliver (Assoc. M. Inst. C. E.) diretor da Fábrica de Tecidos Carioca J. G. Cross, negociante exportador, Rio de Janeiro, G. Bailey, guarda livros. Posta em discussão e não havendo quem pedisse a palavra foi o laudo submetido à votação e por todos.

Em seguida foi discutida a reforma dos Estatutos da Companhia, na qual se contém o aumento do Capital, tendo sido aprovados por unanimidade de votos os estatutos seguintes: em substituição dos estatutos de 1899, que tem vigorado até hoje.

Os estatutos reformados pela assembleia geral de 21 de fevereiro de 1910 davam maior amplitude à ação da diretoria. Foi atribuída nessa reforma a primeira gratificação aos diretores, gratificação a que teriam direito sobre os dividendos que fossem distribuídos aos acionistas.

Já nessa época os serviços de venda da Companhia estavam sendo executados pelos Srs. Edward Ashworth & Cia., e merecia destaque a perfeita organização e o impulso que deram aos negócios, tanto que no final da assembleia a que nós estamos referindo, o Sr. Felix Guisard pediu um voto de agradecimento aos agentes gerais “pelo desempenho sempre correto, ativo e profícuo, que têm dado à incumbência que lhes confiou está Companhia.”

O relatório apresentado mais tarde, à assembleia geral realizada a 23 de julho, tatu aos de 1910, dava conta da liquidação de diversos débitos importantes, estando os bens da Companhia desonerados de seg O de qualquer ônus. O capital aumentado na assembleia anterior tinha sido imediatamente subscrito. Foram iniciados os trabalhos de construção do edifício e dependências da nova fábrica. Anunciava ainda o relatório que deveriam ser eleitos os membros da diretoria de acordo com a reforma dos estatutos e bem assim eleger o conselho fiscal e suplentes.

A assembleia de 23 de julho resolveu então eleger a seguinte diretoria: presidente, Dr. Rodrigo Nazareth de Souza Reis, vice-presidente George Herbert Craig e diretor técnico, Felix Guisard. O conselho fiscal ficou constituído de Edward Ashwort & Cia., Cel. José Benedicto Marcondes de Mattos e Braz Salvador Curtu, e para suplentes foram eleitos Cel.

Antonio Marcondes de Moura, Francisco Benfica de Menezes e João Baptista Guisard, sendo todos proclamados e empossados nos respectivos cargos administrarem a Companhia, no período de julho de 1910 a 30 de junho de 1914. Estava iniciada a cooperação direta dos ingleses nos destinos da Companhia Taubaté Industrial.

Por motivos imperiosos o redator desta seção se viu obrigado a interromper a narrativa da história da Companhia Taubaté Industrial. Agora volta ele à sua mesa de trabalho, a fim de continuar a sua obra.
Aqueles a quem esta narrativa tem tido a felicidade de agradar se mostraram por tal forma interessados que grande foi o número cartas e recados recebidos, perguntando pela sua continuação. É pois a guisa de agradecimento este introito.

Poderiamos voltar a tratar imediatamente do assunto de que nos ocupamos em nossa última colaboração. Alguma coisa nos diz que não. Uma vez que o nosso jornal sabe hoje festivo, alegre, comemorando um fato interessantíssimo do ponto de vista do progresso da Companhia Taubaté Industrial, por que não nos associarmos nós, também, à essa alegria para cantar hosanas a Deus pela graça concedida de manter até hoje, à frente dos destinos da Companhia Taubaté Industrial o ilustre casal Felix Guisard. Parece-nos acertado dizermos que o casal Felix Guisard se tem mantido à frente dos destinos da Companhia.

Taubaté Industrial, porque a companheira dos primeiros dias, trabalhando incessantemente sem desfalecimentos fazendo mesmo às vezes serviços pesados, para auxiliar o marido trabalhador e probo, é a mesma companheira de hoje que ainda o anima para a continuação da obra, é, por assim dizer. o aplauso mais sincero que ele recebe após a labuta diária, o estímulo mais precioso que ele pode desejar e merecer.

Não podemos achar um meio mais apropriado de comemorar as bodas de ouro do casal Felix e Jeanne Guisard, senão publicando o retrato dos atuais diretores da Companhia Taubaté Industrial. Na sua mudez, na sua simplicidade pode entretanto esta fotografia designar-se como:
“Um dos mais expressivos capítulos da história da Companhia Taubaté Industrial”.

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